De volta! Mas de mudança

quinta-feira, 17/abril, 2008

Depois de um longo e tenebroso inverno, com direito a correria de final de ano, casamento e mudança de escritório, eis que este blog volta à (boa) vida!

Peço desculpas a todos pelo sumiço, é que realmente a vida on-line dá um trabalho desgraçado. Acho que, se não for para blogar direito e levar as coisas à sério, é melhor não blogar. Isso explica em parte o desaparecimento deste blogueiro nos últimos tempos. Sorry, sorry, sorry. De verdade. Isso não vai acontecer de novo.

Desculpas feitas (e, espero, aceitas), devo dizer também que estamos de mudança! Em breve este blog irá para outro endereço. Então peço a gentileza de vocês esperarem mais alguns dias antes do retorno triunfal (e modesto) do Boa Vida.

Nos vemos em breve! Como diria o Seu Silvio, aguardemmmm!


Vinho branco, Jerez ou… estragado?

sexta-feira, 11/janeiro, 2008

Foi exatamente essa pergunta que eu me fiz quando tomei o Côtes du Jura Cuvée Tradition do produtor francês Baud Père & Fils, safra 1996 (R$ 92 no Club do Taste-Vin).

Tomei conhecimento desse vinho há algum tempo, após ler um comentário no falecido blog do Ed Motta sobre vinhos. Na verdade o cantor havia tomado um vinho diferente do mesmo produtor, o Château Chalon, safra 1992. Mas a “alma” do Cuvée Tradition e do Château Chalon é a mesma.

Explico: Chalon é uma região de 50 hectares que fica na região do Jura (pronuncia-se jurrá), no leste da França, perto da fronteira com a Suíça. Lá são produzidos os chamados vin jaune, que são famosos pela longevidade. Esse tipo de vinho é feito de um jeito parecido com o Jerez, o vinho fortificado espanhol que é bebido como aperitivo. Ou seja, um vin jaune é oxidado de propósito. Funciona assim: o vinho é feito normalmente, com a uva francesa savagnin (parente da gewurztraminer). Depois, as tampas dos tanques de fermentação são abertas para o vinho ter contato com o ar. Deixar um vinho aberto por muito tempo, em contato com o oxigênio, é um processo que, normalmente, estraga a bebida. Mas, nesse caso, é algo desejável.

Bom, o vinho fica lá um tempão, em contato com o ar. As leveduras e bactérias entram em ação e o vinho produza uma, digamos, película branca que os franceses chamam de “flor”.  Depois o vinho vai repousar em barris de carvalho. Chega a ficar lá por até seis anos, o que é um bocado de tempo para qualquer tipo de vinho. E aí ele é engarrafado.

Eu adoro uma novidade. Não acho que o mundo do vinho deve ser chato e quadrado, muito pelo contrário. Embuído desse espírito, abri o vinho. Não esperava que ele fosse tão fantástico como disse o Ed Motta, mesmo porque eu sabia que o Cuvée Tradition seria um vinho inferior ao Chalon (um é intermediário para a Baud, enquanto o outro é o top de linha da vinícola). Mas confesso que me decepcionei.

Logo de cara, no exame visual, a primeira surpresa. O vinho tem uma coloração amarela muito, muito forte. Das duas uma: ou seria um Jerez ou estaria estragado.

Fomos ao nariz. Muito mel, flor, castanhas, manteiga. Pelos aromas, o vinho prometia muita untuosidade na boca. Lembrava o cheiro de um vinho de sobremesa, mas não tão doce. Meu cérebro já começava a dar um nó…

Provei. Numa frase, na boca o vinho não tinha absolutamente nada a ver com o que ele indicava na aparência e nos aromas. Um vinho seco, sem corpo e… sem gosto. Jerez não era. Estragado? Branco leve que nem água? Quero dizer, ele estava mais para vinho amarelo do que branco… Cadê a untuosidade? Persistência zero. O vinho praticamente sumia na boca. Parecia evaporar.

No fim das contas, não consegui terminar a garrafa. Foi uma experiência válida, mas com resultado muito ruim. 100% de estudo e 0% de prazer. Esse vinho me lembrou um pouco o Insólito, da Cave Ouvidor, sobre o qual eu escrevi aqui outro dia. Prometia demais no exame visual e no olfativo, mas fracassava na boca. A sensação que eu tive com esse Jura foi a mesma. Decepcionou.

Tenho um amigo que diz que, com exceção dos tops da Borgonha, é sempre bom desconfiar de um vinho branco com muitos anos de vida. Ou ele está ótimo ou passou do ponto. No caso desse vinho intrigante do Jura, eu arrisquei esperando altos ganhos. E perdi.

É a vida. Até o próximo post.


O melhor do fim de 2007

quarta-feira, 2/janeiro, 2008

Depois de uma quente e ensolarada folga de verão no fim do ano passado, eis que o blog volta com a corda toda em 2008. Já não era sem tempo: há muita coisa a ser escrita.

Começo com o Natal. Assim como muita gente, eu e minha família participamos desde sempre de uma tradicional festa para celebrar o nascimento de Cristo. Normalmente ela é regada a vinhos brancos e tintos. De uns três anos para cá, devido provavelmente ao aquecimento global, mudamos para espumantes. Neste ano, mais uma inovação: fomos exclusivamente de cavas.

Ótima escolha. Minha impressão é que os espumantes espanhóis estão cada vez melhores. Refrescantes, frutados, ótimos em sua proposta de unir prazer e simplicidade. Os três tipos de cavas que tomamos no Natal –Freixenet brut e rosé (Diageo) e Monasteriolo (Expand) – cumpriram bem essa escrita. Na minha avaliação, são ótimas. E têm uma bela relação custo/benefício. Vale a pena conferir com os importadores.

A semana de folga entre o Natal e o Ano Novo serviu para desovar algumas coisinhas da adega. A mais surpreendente foi um vinho branco da região do Jura, na França, safra 1996 (!). Mais detalhes no próximo post.


Com esse calor, vá de vinho branco

terça-feira, 18/dezembro, 2007

Outro dia fomos ao ótimo Vinheria Percussi para uma degustação inusitada: vinhos brancos.

Pois é. A Vinheria é um dos melhores restaurantes italianos de São Paulo e é especialista em massas com molho vermelho. Mas nós quisemos inventar e pedimos ao Lamberto, o dono do restaurante, um menu com peixe. Na verdade, fomos “forçados” a isso. A idéia inicial da degustação era experimentar vinhos tintos de Bordeaux. Mas estava um calor infernal em São Paulo, então não tivemos saída a não ser trocar o tema por vinhos brancos.

Acertamos na mosca.

Muita gente tem preconceito com vinho branco. Acha que é uma categoria menor se comparada aos tintos. Que não tem muita complexidade e só serve para dar uma refrescadinha. Nada mais equivocado. Assim como os tintos, há brancos para todos os gostos. Dos mais leves e frutados aos mais complexos, que podem facilmente ser confundidos com tintos no sabor (prova disso é o Montrachet que eu provei outro dia, relembre nesse post aqui).

Provamos três vinhos no jantar da Vinheria: o chardonnay chileno Sol de Sol 2003, da vinícola Aquitania; o francês Clos du Papillon Domaines de Baumard 2002, feito com a uva chenin blanc; e o brasileiro Insólito, feito com a rara uva italiana peverella.

soldesol-1.gifBelos vinhos. O meu preferido foi o Sol de Sol. Alguém já disse que ele é o melhor vinho da América do Sul. Não sei. Também acho excelentes o Catena Alta Chardonnay e o Cuvée Alexandre Chardonnay, da Casa Lapostolle. Mas, sem dúvida, ele está à altura da fama. Um vinho muito aromático, jovem ainda (apesar da idade), acidez boa, muito frutado. Uma delícia. Não é um vinho barato (custa R$ 134 na importadora Zahil), mas vale cada centavo.

O segundo melhor da noite foi o Clos du Papillon. Feito no Vale do Loire, na França, é um vinho de guarda. Ainda está muito cru, deve evoluir bem por alguns anos. É um vinho que engana: decepciona no nariz, mas é muito bom no paladar.

Por fim, tomamos o vinho brasileiro. Intrigante. Ele é feito em Santa Catarina por um produtor muito pequeno, a Cave Ouvidor, de Santa Catarina. Já mostra a que veio pela cor: lembra um vinho do Porto ou madeira, com aquele aspecto envelhecido. No nariz é uma explosão de frutas, compotas, aromas minerais, tostados, de xarope… Muito complexo. O problema é na boca: ele não entrega o que promete na cor e nos aromas. É um vinho sem corpo, com pouca acidez e que não impressiona. Mas, de qualquer forma, vale pela experiência. Primeiro por se tratar de um vinho brasileiro de Santa Catarina. E, segundo, por ser feito com a uva peverella, uma autóctone italiana que é rara.

Mais uma vez, uma bela degustação. Fica a dica: nesse calor, a pedida é um branquinho gelado.


Vinho bom do… Líbano

domingo, 16/dezembro, 2007

Essa é para quem gosta de uma coisinha diferente. Outro dia eu tomei um vinho libanês.

Roubada? Ledo engano. Se fosse numa degustação às cegas, eu juraria que se tratava de um legítimo Bordeaux.

O nome da criança é Château Musar. É o maior ícone do Líbano e um vinho delicioso. Tomamos a safra 1999. Estava ainda jovem, frutado e delicado. Bons aromas e ótima acidez. Para o meu gosto, só faltou um pouquinho de corpo (aquela sensação de “peso” e volume na boca), mas nada que prejudique muito o vinho.

 ch_rouge_large.jpg                                                                                                                                                                                                                           

O Château Musar é produzido no  Vale de Bekaa, uma das mais antigas regiões vinícolas do mundo. Ele é feito com um corte das uvas cabernet sauvignon (predominante) e cinzel, tem 14% de álcool e é uma boa pedida se você quiser impressionar alguém. Junto com o Château Kefraya, o Musar é o mais emblemático exemplar do Líbano, o que o torna um vinho exótico por definição.

Se você quiser experimentar uma garrafinha, pode comprá-lo na importadora Mistral. Não é um vinho barato: lá ele custa R$ 143. Mas vale a pena.


Caros, mas inesquecíveis

domingo, 2/dezembro, 2007

Preço é um tema complicado quando se fala dos vinhos da Borgonha. Principalmente se você não é rico.

Eu mencionei no post anterior que há milhares de produtores na Borgonha, uma região geográfica que é bem pequena. Isso faz com que eles produzam poucas quantidades dos vinhos. Eu também escrevi que existem milhares de comerciantes por lá. Pois bem, esses caras precisam garantir suas margens de lucro ao vender. Você que não é bobo já percebeu onde essa fórmula vai dar: preços altíssimos.

O problema é que os vinhos são muuuito bons. E aí acontece um grande dilema. Você fica maluco para comprar cada vez mais garrafas de vinhos da Borgonha. Mas, quando olha para o saldo da sua conta bancária, tem vontade de chorar. Principalmente se você for brasileiro. Se na própria Borgonha os preços já são altos, aqui no Brasil a brincadeira dos vinhos realmente bons da região começa na casa dos 200 reais.

Não, você não leu errado. COMEÇAM em 200 reais. E o céu é o limite.

Vamos aos vinhos da Domaine Jacques Prieur, degustados no evento promovido pela Casa do Porto na semana passada. O vinho mais simples da noite custou R$ 99: é o Clos Mathilde branco, safra 2004. Um vinho bom, mas nada memorável. É um bom caminho para quem quiser se iniciar na arte dos borgonhas sem gastar muito. Mas pára por aí.

O segundo vinho da lista foi um Mersault Clos de Mazeray, safra 2004 (também branco).  Muito bom. Aromas florais e de frutas cítricas. O aumento de qualidade é refletido no preço. Esse vinho custa 327 reais.

Terceiro vinho: Puligny-Montrachet les Combettes safra 2003. Vinho branco classificado como premier cru. Uma delícia. E nada menos que 546 reais a garrafa.

Vinho número 4: Beaune Champs-Pimont branco, ano 1999. Tem oito anos de vida, mas ainda vai longe. R$ 243.

Quinto vinho: Beaune Champs-Pimont tinto, safra 2002. Aromas minerais fortes e complexos, belo equilíbrio, ótimo. 254 reais.

Sexto vinho: Clos de Vougeot Grand Cru 2001, tinto. Excepcional. Aromas ainda mais complexos que o vinho anterior. Muito untuoso, lembra um xarope. R$ 527.

Sétimo vinho: Echezeaux Grand Cru 2001, tinto. Uma criança ainda: vale guardar na adega por vários anos. Agora está muito concentrado. É uma explosão de taninos, carvalho e aromas que lembram pimenta do reino. Sensacional. Pena que custa… R$ 891.

Penúltimo vinho: Musigny Grand Cru 2001, tinto. Eis um vinho intrigante. Muito macio e encorpado, mas com a sensação de que vai longe ainda. Os aromas são um show à parte: basta cheirá-lo para você dar um nó na sua cabeça. Espetacular. Custa R$ 1 255.

Último vinho: Montrachet Grand Cru 2001, branco. Branco? Sim, ele é tão complexo que ficou por último, para depois dos tintos. Se eu fizesse uma degustação às cegas, provavelmente diria que se tratava de um tinto… Isso dá uma idéia da força desse vinho. É possivelmente o melhor branco que já tomei. Muito encorpado. Você gira na taça e dá a impressão que ele tem mel, de tão untuoso. Aromas cítricos, florais, minerais e de trufas. Ele custa nada menos que R$ 2 800.

Vale a pena? Olha, alguns sim e outros não. Se eu tivesse condições, pagaria por três vinhos dessa lista: os três últimos. Diferentes de tudo o que eu já provei, intrigantes e que merecem ser tomados várias vezes. 

Borgonha é isso, caros leitores. Uma brincadeira interminável para os amantes de vinho. Uma brincadeira cara, muito cara. Mas inesquecível. 


O mundinho à parte da Borgonha

domingo, 2/dezembro, 2007

Outro dia fui convidado a participar de uma degustação dos vinhos da Domaine Jacques Prieur, um dos principais produtores da região da Borgonha, na França. Os vinhos começaram a ser trazidos para o Brasil pela importadora Casa do Porto, que chamou a nata dos jornalistas especializados para degustar as belezinhas. O evento aconteceu no meio do feriado, mas lotou. Pudera: foi inesquecível.

Confesso que, entre os vinhos da França, a região da Borgonha é a que eu menos conheço. Os especialistas costumam dizer que os vinhos da Borgonha são um mundo à parte, tanto em termos de sabor como de preço. É muito difícil acertar a compra de um Borgonha. Eles são caros e difíceis de encontrar fora da própria região. Para piorar, há milhares de produtores e comerciantes na Borgonha, o que torna a tarefa de encontrar uma garrafinha honesta ainda mais complicada. É muito fácil comprar vinhos ruins. Em compensação, quando você acerta, jamais vai esquecer o que tomou.

Os bons vinhos da Borgonha são diferentes de tudo o que você já provou. Não seguem o padrão de Bordeaux ou de outras regiões da França. Para começar, só há dois tipos de vinho produzidos na Borgonha: os tintos, feitos com a uva pinot noir, e os brancos, com a uva chardonnay. São, indiscutivelmente, os melhores dessas variedades feitos no mundo. Alguns dizem que são vinhos para “iniciados” na arte da degustação, pois os aromas e sabores são tão singulares que não têm comparação com nenhum outro tipo de vinho (ou região) do mundo.

Se você acha esse discurso um pouco intimidador, espere até saber mais sobre os preços dos borgonhas… Você vai entrar em pânico. Leia no próximo post.


O melhor café-da-manhã de São Paulo

sábado, 1/dezembro, 2007

Antes de mais nada, desculpem pelo sumiço. Essa semana foi de muito trabalho e pouca (pouquíssima) boa vida! Ainda bem que existem “invenções” como o sábado e o domingo…

Bom, mas eu vim aqui falar de outra coisa: café-da-manhã. Como eu escrevi outro dia, é uma das refeições que eu mais gosto de fazer. Sempre que sobra um tempinho, normalmente no final de semana, faço peregrinações às padarias de São Paulo para tentar descobrir quem serve o melhor brunch da cidade. Faço testes para escolher o melhor misto-quente, a média mais bem tirada e o rei dos “minas quente”. É coisa de gente louca, concordo (culpa da Cris, minha mulher, que me iniciou nessa “arte”). Mas também é um grande prazer.

A “competição” pelo melhor café-da-manhã da cidade sempre foi acirrada. Era difícil escolher, com tantas opções numa cidade gigante como São Paulo. Mas eu acho que, após tantas comandas pagas, já dá para cravar quem é o melhor: o Pain et Chocolat, em Moema (como eles não têm site, darei o serviço: fica no final da rua Canário, naquela pracinha da sorveteria, telefone 5094-0550).

A leitora Andrea escreveu um comentário outro dia aqui no blog. Disse que estava perto de convidar a turma para um brunch na Braverie, mas que ficou meio “assim” por causa do meu post falando que os caras pioraram muito (leia no link no segundo parágrafo deste texto).

Se eu fosse você, Andrea, experimentava o Pain et Chocolat. De sábado e domingo, ele serve o melhor brunch que eu já tomei. E por um preço justo: R$ 14,90 por pessoa.

Fui lá várias vezes, a última há alguns dias. E pude comprovar novamente que o lugar é show. É bonito, agradável (tem mesinhas do lado de fora que são um convite ao ócio criativo) e o serviço é bom. O ponto alto, no entanto, são as comidinhas. Simplesmente fantásticas. Os frios estão sempre frescos e o pão de queijo é um atentado à boa forma. Há também uma bela mistura da parte “trash” (ovos mexidos, salsichas e bacon) com coisas saudáveis (frutas da estação,  sucos deliciosos etc.). Sensacional. 

Duas dicas importantes. A primeira: vá bem cedo (por volta das 8h30, 9h) ou mais tarde (depois das 11h30; o brunch vai até 14h). Se você chegar entre 9h15 e 11h30, vai enfrentar uma pequena muvuca, pois o lugar costuma lotar nesse horário. É natural, pois os habitantes locais já sacaram que o lugar é um pequeno tesouro.

Segunda dica: guarde um bom espaço no seu estômago para os doces. Eles são a especialidade das donas do Pain et Chocolat, a Erika Okazaki e a Cecilia Nishioka. Elas são talentosíssimas na pâtisserie. Experimente o bolo de cenoura e os fantásticos mini-sonhos, recheados de creme e doce-de-leite. De chorar.

Podem ter certeza que este blog vai continuar à caça dos melhores cafés-da-manhã da cidade. Afinal, é uma busca contínua e ininterrupta… De qualquer modo, fica a dica: por algum tempo, será difícil tirar o reinado do Pain et Chocolat.


Lugares bons para degustar um charuto

segunda-feira, 26/novembro, 2007

Por ocasião do meu post sobre os epicure sommeliers, o leitor Mario Garcia escreveu: “Seria interessante publicar sugestões de bares e restaurantes que aceitem o charuto e que tenham epicure sommeliers qualificados.” Eis que o meu amigo Cesar Adames, um mestre no assunto, montou uma listinha.

Em São Paulo:

  • Davidoff (Al. Lorena, nos Jardins)
  • Davidoff (Rua Normandia, em Moema)
  • Esch Café (Al. Lorena em frente ao restaurante Antiquarius, Jardins)
  • Hotel Renaissance (Al. Santos esq. com R. Haddock Lobo, no lobby bar e no Havana Club)
  • Lenat (shopping Iguatemi, Itaim)
  • Lenat (rua Oscar Freire esq. com R. Dr. Mello Alves, Jardins)
  • Premium Cigars – Av. Paulista (na galeria do cinema Gemini, bairro Cerqueira César)
  • Ranieri Pipes (Al. Lorena esq. R. Padre João Manuel, Jardins)
  • Roma Cigar Bar (ao lado do shopping Ibirapuera, Moema)
  • Tabacaria Lee (nos shoppings Higienópolis e Center Norte)
  • Tabacaria Roma (na Al. Santos, nos Jardins)

No Rio de Janeiro:

  • Esch Café – unidades no Centro e no Leblon

Essa listinha é para imprimir e guardar na carteira…

Obrigado, Cesar! Os leitores agradecem.


Dica de livro

sexta-feira, 23/novembro, 2007

Ótimo livro na praça: 1000 Segredos dos Vinhos – O guia essencial para os amantes do vinho, da jornalista britânica Carolyn Hammond (314 páginas, R$ 34,90, Editora Novo Conceito).

O livro é estruturado como um guia, com 1000 dicas sobre vinhos. Cada dica é um “tema”, ou algo relevante para se falar sobre a bebida. A fórmula é ótima, pois torna a leitura fácil e agradável, e as dicas são preciosas, até mesmo para quem já conhece de vinho. Para quem não conhece muito, então, é uma pequena Bíblia.

Vale comprar, ler, guardar. E consultar, sempre que possível.


O “fator X” da Wine Spectator

quarta-feira, 21/novembro, 2007

Nada melhor do que comentários dos leitores. Sobre os critérios do ranking da WS, A. Bernarde escreveu: “me parecem bem satisfatórios: qualidade (representada pelos pontos), valor (representado pelo preço de lançamento do vinho), disponibilidade (representada pelo quantidade produzida ou importada) e também o que os editores chamam de fator X. Não existe uma fórmula, o ranking é definido pelos editores. Bem mais satisfatório do que considerar somente pontos, afinal do que vale saber que tal e tal vinho obtiveram 100 pontos, se o preço é inacessivel e o vinho é dificil de achar?”

Perfeita sua explicação para o entendimento do ranking, Bernarde. Mas o que me intriga é justamente esse tal de “fator X”… Ele poderia ser mais transparente. Como eu vou saber que ele não tem a ver com os produtores que anunciam na revista? Será que ele explica por que a região de Borgonha não está melhor representada na lista?

Acho que essas e outras perguntas deveriam ser respondidas… Todo ranking é subjetivo, mas uma lista que tem como pretensão ser a melhor do mundo, e se autoproclama a melhor referência internacional do setor, deveria ter critérios menos discutíveis… Enquanto isso não acontece, acho que ela deve ser olhada com atenção, para ver se há alguma novidade e conhecer vinhos de boa relação custo/benefício lá fora (porque no Brasil é aquela tristeza que conhecemos). Mas pára por aí.

Criticar a Wine Spectator é fácil, eu sei. Mas a culpa disso é da própria revista.


Os 100 da WS

terça-feira, 20/novembro, 2007

Bom, sobre o ranking dos top 100 da Wine Spectator (WS):

1. Só deu França,Itália, EUA e Austrália na lista dos top 10. O sul-americano mais bem classificado foi o argentino Catena Alta 2004, produzido pela Bodegas Catena Zapata. A WS deu 93 pontos para ele, que ficou na 23° posição.

2. Você leu certo: o champagne Krug safra 1996 recebeu 99 pontos da WS. Por que então ele não é o primeiro da lista? Por que a WS não escolhe o melhor apenas de acordo com a pontuação, mas sim com critérios subjetivos. Tanto que há vários vinhos entre os top 10 com 95 pontos. Como justificar a ordem com que eles foram rankeados? É preciso perguntar aos editores da Wine Spectator.

3. Os preços dos vinhos em dólar são de fazer qualquer brasileiro chorar… US$ 80 (ou cerca de R$ 136) por uma garrafa do Châteauneuf-du-Pape vencedor, o Clos des Papes 2005? É uma pechincha. Aqui ele custa umas três vezes isso. Lamentável.

4. Eu discordo de algumas avaliações… Só para ficar nos sul-americanos da lista: o Catena Alta é um ótimo vinho, mas não merece 93 pontos nem a pau. Talvez uns 90, no máximo. Nem o Viña Montes Syrah 2005, do Chile, merece os 92 que recebeu. MUITO MENOS o Alto Las Hormigas Malbec Reserva 2005 (que também ganhou 92, enquanto deveria ficar com uns 88). E quanto ao Santa Rita Medalla Real 2004 receber 91 pontos? Faz-me rir. É um belo vinho, mas não é para tanto. A WS viajou …

5. Por outro lado, concordo com outras coisas: a quarta colocação do Tignanello 2004, por exemplo, é mais do que justa. É um vinho de sonho. Assim como achei perfeita a classificação do Ornellaia em sétimo (apesar do preço exorbitante, foi um dos melhores vinhos que já tomei na vida). Aliás, muito legal da parte da WS em botar dois italianos na lista dos 10 primeiros. Principalmente porque, na minha opinião, os vinhos da Itália tendem a ser um pouco injustiçados em degustações especializadas. Como eles foram feitos para ser tomados com comida, e crescem quando isso acontece, quando estão sozinhos eles tendem a demonstrar menos complexidade e classe que muitos franceses de Bordeaux, por exemplo. E isso acaba influenciando os degustadores. De qualquer jeito, ponto pra Velha Bota pelas duas presenças no top 10. Fez bonito.

6. Pena que os vinhos americanos da lista não sejam acessíveis aos brasileiros. Como eu já escrevi aqui no blog, é quase impossível encontrar os vinhos dos EUA por aqui. Grotesco.

É isso, caros leitores. O que você acharam da lista? Podem meter a boca no trombone, para o bem e para o mal, aqui no blog.


Os 100 melhores da Wine Spectator

terça-feira, 20/novembro, 2007

A revista americana Wine Spectator publicou hoje a esperada lista dos 100 melhores vinhos de 2007.

Como eu já escrevi aqui neste blog, não se trata de um ranking absoluto, definitivo ou infalível, mas uma referência importante do mercado. Isso significa que vale a pena você ler e conhecer os vinhos listados. Mas só emitir a sua opinião depois que degustá-los. Daí, resta concordar ou não com as avaliações da revista.

Eis a lista dos 10 primeiros, com suas pontuações (de zero a 100) e o preço em dólar nos Estados Unidos:

1° –  Clos des Papes Châteauneuf-du-Pape 2005 – França – 98 pontos – US$ 80

2° –  Ridge Chardonnay Santa Cruz Mountains 2005 – EUA – 95 pontos – US$ 35

3° –  Le Vieux Donjon Châteauneuf-du-Pape 2005 – França – 95 pontos – US$ 49

4° –  Tignanello 2004 – Itália – 95 pontos – US$ 79

5° –  Two Hands Shiraz Barossa Valley Bella’s Garden 2005 – Austrália – 95 pontos – US$ 60

6° –  Château Léoville Las Cases St.-Julien 2004 – França – 95 pontos – US$ 90

7° –  Ornellaia Bolgheri Superiore 2004 – Itália – 97 pontos – US$ 150

8° –  Mollydooker Shiraz McLaren Vale Carnival of Love 2006 – Austrália – 95 pontos – US$ 80

9° –  Robert Mondavi Cabernet Sauvignon Napa Valley Reserve 2004 – EUA- 95 pontos – US$ 125

10° –  Krug Brut Champagne 1996 – França – 99 pontos – US$ 250

Para fazer o download da lista completa, clique aqui com o botão direito do mouse e escolha a opção “Salvar como”. No próximo post eu faço algumas considerações sobre a lista.


O melhor epicure sommelier do Brasil

domingo, 18/novembro, 2007

A edição deste ano do Concurso Brasileiro de Epicure Sommelier aconteceu durante o Prazeres da Mesa Ao Vivo, o já tradicional evento realizado pela revista homônima. Teve recorde de público e de participantes. Dez candidatos chegaram à fase final da competição. Cada um teve que responder a uma prova teórica, para testar seus conhecimentos sobre charutos, e realizar uma demonstração prática da execução do serviço.

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Na foto ao lado você pode ter uma boa idéia do que aconteceu. A concorrente Fernanda Ayoub faz a sugestão a um cliente e realiza todo o serviço do charuto (cortar, acender, entregar ao cliente, propor a harmonização com uma bebida e servi-la). Tudo sob os olhares atentos do cliente (o epicure sommelier Samuel Benseman, vencedor do concurso no ano passado) e do júri, formado por quatro pessoas – da esquerda para a direita: Ruimar de Oliveira, do Café Kahlúa, de Belo Horizonte, vencedor do concurso em 2005; Rodrigo Gorga, da tabacaria Lenat, vencedor do concurso em 2004; Lamberto Percussi, dono da Vinheria Percussi, um dos melhores restaurantes italianos de São Paulo; e eu.  

O julgamento não é fácil. Nós do júri temos que ficar atentos a tudo, como a postura dos candidatos, a precisão do corte, o fluxo da queima do charuto e a qualidade da harmonização sugerida, entre outros detalhes. E temos que fazer isso 10 vezes, para testar as harmonizações de cada participante.

Eis quais foram os competidores deste ano e suas sugestões de harmonização (por ordem alfabética).

1. Ana Paula Ferreira das Neves – Café Journal (SP). Charuto cubano Punch (tipo Punch-Punch) com whisky Chivas Regal 18 anos.juri-2.jpg

2. Arthur Avedissian – Tabacaria Premium Cigars (SP). Charuto baiano Damata Graduados com licor de cerveja Eisenbahn.

3. Camilo Poveda – Hotel Renaissance (SP). Charuto cubano Hoyo de Monterrey Epicure no.2 com rum Havana Club 5 anos.

4. Fernanda Ayoub – Senac (SP). Charuto cubano Cohiba Robusto e vinho do porto Graham’s 10 anos.

5. Gustavo de Pádua – Bar Genco 1492 (MG). Charuto cubano Romeo e Julieta Short Churchill e vinho de sobremesa grego Mavrodaphne de Patras.

6. Jessemon Gonçalves Porto – Tabacaria Roma (SP). Charuto baiano Angelina Especiales com rum jamaicano Appleton Estate VX.

7. Nelton Fagundes Santos – Adega do Mercado (MG). Charuto cubano partagas série P no.2 com amontillado Bodegas Rey Fernando de Castilla.

8. Francisco Paulo Macedo – Roma Cigar Bar (SP). Charuto cubano Vegas Robaina Robusto com cerveja belga Gulden Draak.

9. Renata Paschoal – Hotel Renaissance (SP). Charuto cubano Montecristo no.4 com rum Havana Club 7 anos.

10. Simone Vasconcelos – Esch Café (SP). Charuto cubano Partagas série D4 com calvados Pere Magloire.

Como você pode ver, as harmonizações foram interessantes… Eu gostei mais da 5 e da 8, pois eu não conhecia o vinho de sobremesa grego e nunca havia tomado a Gulden Draak. As combinações com os charutos foram supreendentes – e deliciosas.  

Após quase três horas de concurso, o vencedor foi o Arthur Avedissian, da tabacaria arthur1.jpgPremium Cigars (na foto ao lado). Em segundo lugar ficou a Fernanda Ayoub e, em terceiro, o Jessemon Porto. O Arthur teve o desempenho mais completo entre os concorrentes. Dominou a parte teórica, propôs uma bela combinação e, na parte prática, foi tecnicamente preciso. Além de ganhar um monte de bebidas e charutos como prêmio, o Arthur ganhou o direito de representar o Brasil no concurso mundial. Parabéns, Arthur. E boa sorte, pois em Cuba o bicho vai pegar.


Profissão: epicure sommelier

sábado, 17/novembro, 2007

Quando você vai a um restaurante, tem contato com uma série de profissionais que estão lá para tornar a sua noite agradável. O maître te conduz até a mesa e recomenda os pratos. O sommelier recomenda o vinho. O chef dá uma passadinha na mesa para saber se foi tudo bem. Perfeito. Mas imagine que você quer acender um charuto para encerrar a noite e fumá-lo junto com a bebida adequada. Quem vai te socorrer?

OK, você pode pensar que essa pergunta é descabida. Afinal, quantas pessoas se deparam com esse “problema”? Quantos gostam de fumar charuto? E quantos restaurantes permitem essa prática? Mais: se permitem, por que vão se importar em interferir no que você gosta de fumar e beber?

Bom, tenho algumas informações importantes para você que pensa desse jeito. Da mesma forma que acontece na Europa e nos Estados Unidos, acender um charuto está começando a se tornar um hábito freqüente em bares e restaurantes do Brasil. Há cada vez mais lojas vendendo charutos (são cerca de 200 só em São Paulo; eram menos de 100 no ano passado). Novos estabelecimentos “amigos do charuto” estão sendo abertos o tempo todo. Os mais antigos, já conhecidos dos charuteiros, não páram de crescer. E, diante disso, há cada vez mais pessoas fumando no país.

Parece que a explosão do consumo de vinhos e cervejas especiais fez com que os consumidores quisessem um “algo a mais”. E ele parece ser o charuto.

O fenômeno é tão sério que provocou o surgimento de uma nova profissão na praça: o epicure sommelier. É um profissional que trabalha em bares e restaurantes e cuja missão é  recomendar a harmonização de um charuto e de uma bebida para o cliente ter o máximo de prazer nessa combinação.

O epicure sommelier é uma figura já estabelecida nos Estados Unidos e na Europa. Em Cuba, a terra dos habanos, eles são verdadeiras celebridades.  Tanto que a Habanos S.A., a entidade que regula o mercado de charutos naquele país, promove um concurso anual para escolher qual é o melhor Habanosommelier do mundo. A competição acontece durante o Festival del Habano, o mais importante evento internacional sobre charutos do mundo, que acontece há nove anos. O atual campeão do concurso é o inglês Fabien Garrigues. Em 2006, a vencedora foi a espanhola Manuela Romeralo.

O próximo concurso de Habanosommelier acontecerá no primeiro trimestre de 2008. E, assim como aconteceu nos últimos quatro anos, vai contar com a presença de um candidato brasileiro. Sim, você leu direito. O Brasil tem sua eliminatória regional do concurso internacional. O concurso é organizado pelo Cesar Adames. Como eu já escrevi neste blog, o Cesar é provavelmente o maior especialista brasileiro em charutos. É jurado da final mundial do Habanosommelier há tempos. E realiza um trabalho brilhante aqui no Brasil para divulgar o charuto e formar novos talentos na praça.

Tive o privilégio de ser jurado nas últimas três edições do Concurso Brasileiro de Epicure Sommelier. O nível dos profissionais vem subindo ao longo dos anos, assim como o número de participantes do concurso. A edição deste ano da peleja aconteceu outro dia em São Paulo. No próximo post você vai ficar sabendo de tudo o que rolou por lá.


A arte de fazer um grande vinho

quinta-feira, 15/novembro, 2007

Acabei de ler um livro interessante: “A arte de fazer um grande vinho”, do jornalista americano Edward Steinberg. Conta a história do produtor de vinhos Angelo Gaja (pronuncia-se Gaia), um dos maiores da Itália.

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O livro me despertou sentimentos controversos. Principalmente pela maneira como foi escrito. Se por um lado seu conteúdo é ótimo (porque a história de Gaja é fascinante), por outro ele poderia ter sido mais bem estruturado por Steinberg. O autor escreveu o livro em capítulos em ordem cronológica e eles não necessariamente têm coesão entre si. Respeito o estilo literário de cada um, mas, nesse caso, esse formato só atrapalha o leitor, que tem que ficar caçando uma “ordem” para entender a vida e a obra do Gaja. O melhor da história fica perdido no meio de cada capítulo.

Steinberg conta duas histórias de maneira entrelaçada: a fabricação do vinho Sori San Lorenzo 1989 e a trajetória do Angelo Gaja. São duas histórias muito interessantes. Gaja é possivelmente o maior nome da Itália, o produtor que colocou o país no mapa dos grandes vinhos, sobretudo nos Estados Unidos e na Inglaterra, os dois grandes mercados consumidores da bebida. Ele transformou a região de Barbaresco, vizinha a Turim, no Piemonte, numa referência internacional. O vinho que é feito lá, que leva o mesmo nome, num dos mais cultuados do planeta. E ele próprio numa celebridade entre os enófilos.

O livro foi lançado no Brasil em 22 de outubro. É publicado aqui pela editora WMF Martins Fontes, tem 294 páginas e custa R$ 47,50. Mesmo com os problemas de estrutura editorial, vale a pena conferir. Nem que seja para ficar com mais vontade de ler uma história mais bem escrita sobre o Gaja. Ou, quem sabe, até comprar um de seus vinhos.


Blog bom na praça

quarta-feira, 14/novembro, 2007

Meu post sobre as cervejas Urthel rendeu um comentário interessante do meu amigo Ricardo Amorim, ex-editor de ÉPOCA Online e um apaixonado por cervejas. Seu blog, Cerveja Só, está entre os melhores do país sobre o tema. E já está na barra de links aqui do lado esquerdo.

Vá lá, eu não concordo muito com o slogan do Cerveja Só (“para quem não agüenta mais falar de vinho”)… Acho um pouco radical demais, pois eu adoro as duas coisas… Mas o Amorim é um profundo conhecedor das brejas e um ótimo jornalista, que adora uma discussão inteligente. Como o que falta em alguns blogs é justamente uma boa polêmica, acho que ele está certíssimo. Quanto mais a gente fomentar o debate sobre as coisas boas da vida na internet, mais interessante será a blogosfera.

Bom, chega de blá-blá-blá. Quando puder, dê uma passadinha no Cerveja Só. Vale a pena. 


Vinhos para o dia-a-dia

terça-feira, 13/novembro, 2007

Duas recomendações matadoras:

1. Uxmal, um vinho básico produzido pelo já lendário produtor argentino Nicolás Catena Zapata. Frutado, leve, delicioso para a sua proposta. E baratíssimo: com o dólar baixo, ele sai por cerca de R$ 18 a garrafa. Se puder, corra lá na importadora Mistral e compre uma caixinha.

 2. Finca Sophenia, outro argentino ótimo. Vá de malbec. É um pouco mais caro (cerca de R$ 50 a garrafa), mas vale ter em casa para quando você quiser tomar um belo vinho, gastar pouco e não correr riscos. É vendido pela Expand.


Cervejas com rolha

segunda-feira, 12/novembro, 2007

Incrível como a fronteira entre os vinhos e as cervejas está se tornando difusa.

Outro dia, junto com meu grande amigo Cesar Adames – o maior especialista em charutos do Brasil -, fui a uma degustação de cervejas especiais promovida pela importadora Bier & Wein. Cervejas especiais são aquelas que são diferentes daquelas que todo mundo bebe no bar. São produtos mais elaborados, complexos e que são apreciados, não virados goela abaixo. Como diria o Cesar, não dá para encher a cara com esse tipo de cerveja. O certo é degustá-las.  

Eis uma tendência do mercado de bebidas. Ninguém fala abertamente nesse assunto, mas o fato é que as grandes cervejarias estão se movendo com uma força assustadora para o segmento premium. Lá as margens de lucro são maiores e é possível fidelizar os consumidores com mais facilidade – justamente porque são apreciadores da bebida, não beberrões inveterados de qualquer coisa.

Quem diria: degustar cerveja está virando moda. O resultado disso é que as cervejarias pequenas, artesanais, estão sendo adquiridas pelas grandes. E as que sobrevivem o fazem a duras penas, principalmente fora de seu país de origem.

Isso também faz com que esse tipo de cerveja comece a competir com o vinho pelo paladar dos consumidores. Uma garrafa de uma boa cerveja premium é tão ou mais cara que uma de vinho. E você já deve ter visto um bocado de cervejas em garrafas de vinho com… rolha de vinho. É uma tendência.

Eu fui conferir de perto essas novidades na degustação da Bier & Wein, que aconteceu no bar Laus Special Beers – um reduto de apaixonados por cerveja comandado por um autêntico exemplar dessa estirpe, o Eder Laus. O bar bem que poderia ser chamado de um pedacinho do paraíso no meio da Chácara Santo Antônio. Se você trabalha perto da rua Verbo Divino, deveria fazer um happy-hour lá todos os dias. A variedade de cervejas é inacreditável e o atendimento do Eder é excelente.

Bom, a degustação aconteceu devido ao lançamento das cervejas holandesas Urthel, que acabaram de chegar ao Brasil. Não vou me deter aos detalhes técnicos da prova, porque o meu colega Edu Passarelli já fez isso muito melhor do que eu faria no seu excelente blog Edu Recomenda. (Além de ter um nome sensacional, o Edu é um profundo conhecedor do assunto. Tanto que seu blog acabou de merecer um link permanente aqui no meu, dê uma olhadinha do lado esquerdo. Depois você dá uma passadinha lá para conferir a parte técnica completa.) O fato é que as cervejas Urthel são deliciosas. Em especial a Hop-it, um belo exemplar das cervejas ricas em lúpulo.

Lúpulo? Isso, é aquela coisa do comercial mesmo: um dos quatro ingredientes da cerveja, junto com a água, o malte e a cevada. A única coisa é que nem sempre ele é feito em Hallertau na Alemanha… Bom, o lúpulo é uma planta que confere aroma e sabor à cerveja. Quanto mais lúpulo, mais aromática e saborosa é a brejinha. No caso da Hop-it, ela tem o sabor muito pronunciado e um aroma fantástico, que lembra tostado, caramelo, toffe e otras cositas más. Sensacional.

O preço das Urthel nos remete à discussão lá de cima: cada garrafa de 1 litro custa por volta de R$ 40. Vale? Vale. É a proposta dela. Como diria o Cesar, em vez de você tomar 12 latinhas de cerveja vendo futebol na TV, achando que cada time tem 30 jogadores, vai tomar duas garrafas de Urthel apreciando a cerveja e TAMBÉM o futebol. Parece ótimo.

De qualquer maneira, vale a pena prestar atenção nessa briga que se desenha pela sua garganta. Tome nota: cada vez mais as ocasiões de consumo vão se misturar. Antes você não pensava duas vezes antes de levar cerveja para a beira da piscina. Hoje, já leva um espumante, um vinho branco ou rosé. Ou uma cerveja especial. Eis algo para refletir…


Ótima pedida em Sampa

domingo, 11/novembro, 2007

Ontem à noite fui jantar num lugar surpreendente e delicioso: o AK Delicatessen. Ele tem esse nome porque 1) É uma delicatessen, adivinhão e 2) Pertence à jovem chef Andrea Kaufmann, uma das mais talentosas de sua geração.

O AK é um lugar interessante. É um minúsculo sobrado que fica em Higienópolis, na rua Mato Grosso. Se você gosta de gastronomia, vai lembrar que lá já funcionou, há algum tempo, o Ici Bistrô. Na parte de baixo fica a loja, com quitutes judaicos que podem ser levados para casa ou degustados lá mesmo, numa das mesinhas redondas disponíveis. Na parte de cima fica o restaurante, super bem arrumadinho e com aquele jeito aconchegante dos bistrôs.

Éramos três à mesa (eu, a Cris e a Ju, uma amiga nossa que mora nos EUA e estava matando a saudade do Brasil). Logo ficamos impressionados com o serviço impecável do AK. Os garçons nos orientaram para tudo, desde a escolha do espumante até o pedido dos pratos. Destaque para o sommelier Mauro, que deu dicas preciosas dos vinhos que tomamos. Fizemos o serviço completo. Para começar, um espumante da região de Franciacorta, na Itália, que estava uma delícia – mas que eu fiz questão de esquecer qual era. Bom… Depois fomos de Passo Doble safra 2004, o vinho resultante do projeto que o italiano Masi tem em Tupungato, na Argentina (trazido ao Brasil pela importadora Mistral). Ótima relação custo/benefício. Pagamos cerca de 90 reais por um vinho sério, suave e gostoso. No fim do jantar, fomos de um pout-pourri de vinhos de sobremesa: uma taça de um sauternes genérico, outra de tokaji e outra de um Viña Carmen late harvest.

Hã, não entendeu nada? Explico. Sauternes (pronuncia-se sôtérn) é uma região de Bordeaux, na França, que possui alguns dos melhores vinhos de sobremesa do mundo. Como a região é sinônimo dessa variedade, é costume chamar os vinhos produzidos em Sauterne de… sauterne. Já o tokaji (pronuncia-se tokai) é um tradicional vinho húngaro de sobremesa que está entre os melhores do mundo também. Ele tem diversos tipos. O que provamos é um Aszú, a mais conhecida e melhor variedade. Já o Viña Carmen é um vinho chileno. Late harvest significa que ele foi feito com uvas que foram colhidas tardiamente (late harvest significa colheita tardia, em inglês), o que dá a elas mais concentração de açúcar. Ou seja, elas ficam mais docinhas e se tornam matéria-prima dos vinhos de sobremesa.

Bom, falávamos do serviço do AK. Sim, impecável. E muito útil também na hora de escolher os pratos. Escolher a comida não é fácil, porque há várias opções que parecem muito interessantes. Os garçons (e a chef, que passou pelas mesas duas vezes) recomendaram direitinho. Começamos com uma degustação de varenikes, os pasteizinhos/raviolis de batata que são clássicos da culinária judaica. Estavam excepcionais. Depois eu fui de filet mignon com crosta de pistache e molho de cogumelos. Sensacional. Por fim, ainda pedimos uma degustação de sobremesas. Destaque para o pain perdu, a velha e boa rabanada, que estava de lamber os beiços. A conta foi justa: se você for com o(a) namorado(a) ao AK vai gastar, sem vinho, uns R$ 150 o casal. Vale cada centavo.

Parabéns, Andrea. Seu restaurante é show.


Wine Spectator

sábado, 10/novembro, 2007

Em tempo: minha opinião sobre o Parker é quase a mesma da que eu tenho sobre a revista americana Wine Spectator. Com uma diferença básica: eu acho as avaliações da WS, como a revista é conhecida, bem menos consistentes que as do Parker.

A WS é uma referência válida. É, assim como as notas do Parker, um critério para ajudar os consumidores a comprar. Mas eles andam pecando pela inconsistência. Fazem comparações meio descabidas, como forçar paralelos entre vinhos do Novo e do Velho Mundo, por exemplo. E já foram muito mais respeitados no mercado do que são hoje.

O que fazer? O mesmo que você deve fazer em relação às notas do Parker. Usar as avaliações da WS como REFERÊNCIA. Às vezes eles são brilhantes, em outras eles erram a mão. É do jogo, mas vale ficar atento.

Para completar, outras duas boas referências de avaliação são as revistas Decanter e Wine Enthusiast. Vale conferir. Os links estão logo ali, no menu do lado esquerdo.


Parker, o dono da bola

sábado, 10/novembro, 2007

Antes de mais nada, peço desculpas pela ausência. A última semana foi daquelas complicadas, sem tempo nem para um vinhozinho… Prometo que, a partir desta, não vou mais descuidar deste humilde blog.

Bom, eu prometi dar a minha opinião sobre o Robert Parker. Ei-la: acho ele uma figura fundamental no mundo do vinho. Sem ele, os vinhos que tomamos hoje talvez fossem piores. E o mercado seria com certeza muito mais sem graça.

Criticar o Parker virou moda. Para mim, é coisa daquele tipo de gente que está aprendendo a tomar vinhos, começou a tomar umas garrafinhas mais caras e, de tanta pose, acaba achando que pode criticar essa ou aquela pessoa. É um comportamento patético. Os críticos ferrenhos do Parker, na maioria dos casos, são de dois tipos: aqueles que querem buscar seus 15 minutos de fama e os produtores ruins, que não fazem nada para melhorar seu vinho.

ÓBVIO que as opiniões do Parker não podem ser sinônimo de unanimidade. Como qualquer ser humano, ele tem suas preferências pessoais. E todos são livres para concordar ou discordar dessas preferências. Parker, veja só, também erra (não sei se você sabe, mas ele também toma água, vai ao banheiro, come, dorme…). Mas o erro não é um conceito tão simples assim no mundo do vinho. O vinho não permite verdades absolutas, mas opiniões bem fundamentadas.

Já discordei das avaliações do Parker diversas vezes, mas eu gosto dele. Ele foi o primeiro crítico a mostrar as fragilidades de alguns produtores que tinham muito nome e pouca qualidade. É um cara sério, consistente e, até que provem o contrário, sem rabo preso com ninguém (o que é algo difícil de encontrar no mundo do vinho, em que muitos críticos recebem “presentes” das vinícolas).

Além disso, o critério de pontuação do Parker é uma referência aos consumidores. Repito: referência, não verdade absoluta. É apenas UM critério. Embora prático, não necessariamente é o melhor. Muitas vezes ele acerta na mosca, outras vezes você acha aquilo que ele escreveu um absurdo. Bom que seja assim. O ideal é que cada consumidor e apaixonado por vinhos defina seus próprios critérios. Isso vem com a chamada “litragem”. Quando maior a variedade de vinhos que você toma, mais facilmente descobre o que você gosta e o que não gosta. Sem precisar reclamar do Parker para isso…


The Wine Advocate

sexta-feira, 2/novembro, 2007

Comecei a assinar o The Wine Advocate. Para quem não sabe, é a publicação que transformou o advogado americano Robert Parker no crítico de vinhos mais influente do mundo.

Formado em História e Direito, Parker trabalhou durante dez anos como advogado no banco Farm Credit, em Baltimore, nos Estados Unidos. Era um apaixonado por vinhos. Tanto que, em 1978, começou a escrever sobre os tintos e brancos que tomava, num folheto mensal que enviava aos amigos. No começo da década de 80, largou o emprego e decidiu transformar o folheto num jornal. Nascia o The Wine Advocate (O Advogado do Vinho).

A publicação se tornou um guia de referência para os consumidores americanos. E Parker se tornou uma estrela. Ele ganhou destaque ao avaliar a safra de 1982 dos vinhos da região de  Bordeaux, na França, como “soberba”. Foi uma opinião oposta à dos críticos franceses. Anos depois, abertas as garrafas, viu-se que Parker tinha razão. A partir daí, sua influência só aumentou.

Dá para notar isso só de ver o Wine Advocate. É, provavelmente, a publicação mais feia da história. É um catálogo em preto-e-branco, sem fotos, figuras, imagens ou ilustrações. É mais ou menos como uma lista telefônica, só que com páginas brancas.

O que vale, lá, não é a beleza. É o que está escrito.

Isso porque, nos anos 80, Parker criou um ranking de avaliação de vinhos que confere até 100 pontos a cada garrafa. Todos partem de 50 pontos. Se o vinho é médio ele ganha uns 80 pontos, se é melhorzinho leva uns 85, se é bom ganha de 86 a 89. E, se é bom meeesmo, ganha de 90 para cima. Esse sistema é considerado discutível, pois as notas de Parker são capazes de provocar a ruína de alguns produtores – ou de elevar o preço de seus vinhos às alturas.

Todo esse poder tornou Parker uma figura polêmica. Ele é odiado pelos críticos, que o acusam de provocar uma padronização dos vinhos em torno de seu gosto pessoal. E amado pelos fãs, principalmente os americanos, que praticamente aprenderam a tomar vinho lendo suas avaliações.

O que você acha dele? Já já eu escrevo minhas opiniões por aqui.


Enquete rápida

domingo, 28/outubro, 2007

Inspire-se no post abaixo e responda: qual foi a vez em que você se sentiu mais roubado num bar, restaurante, padaria ou afins?

As melhores respostas ganharão um post especial. Conte a sua história pra gente.


O chef é tudo

sábado, 27/outubro, 2007

Outro dia, aqui no blog, li o seguinte comentário do leitor Fábio sobre uma nota que eu fiz sobre o Lola Bistrô: “O problema é que depois da saída da chef Raquel Arruda, o Lola ficou sem nenhum chef na cozinha”, disse o Fábio. “Já faz tempo que a comida deixou a desejar… É uma pena.”

O Fábio está certíssimo. Além do Lola, pude comprovar isso na pele hoje, quando fui tomar café da manhã na Braverie.

Como bom paulistano, eu adoro tomar café da manhã em padarias. É um dos hobbys que eu tenho com a Cris, minha namorada. Volta e meia vamos visitar alguma padaria nova e experimentar o misto quente, o pão na chapa e a média desnatada. Praticamente nos especializamos em avaliar, informalmente, o desempenho dos chapeiros.

A Braverie é uma padoca metida a chique que fica em Pinheiros, em São Paulo. É uma delícia. Ou melhor, era: desde o início de outubro, descobrimos que o estabelecimento mudou de chef. Pode parecer algo trivial, mas a mudança foi enorme. Para pior.

A Braverie sempre foi um lugar caro. Seu buffet de café da manhã com certeza está entre os mais absurdos de São Paulo: R$ 23 por cabeça. É, como diria meu irmão Guilherme, uma facada. Mas você saía de lá refestelado. Cada detalhe valia a pena. O pão de queijo quentinho, as frutas frescas, os ovos mexidos feitos na hora, servidos dentro da própria casca do ovo, o waffle preparado com capricho… Era o lugar perfeito para abrir o jornal no domingo de manhã, jogar conversa fora e comer um brunch de primeira.

Com as mudanças,  a padaria se transformou numa das piores relações custo-benefício da cidade. Os ovos mexidos foram parar numa panela grande. No raspo do tacho, ficam frios. Os waffles agora ficam endurecendo em cima da bancada. As fornadas de pão de queijo agora chegam mais rápido do que antes. Mas porque eles estão crus. Ficam borrachudos, frios e impossíveis de comer.

Eu nem sei quem era o chef anterior e nem sei quem é o atual. Portanto, não é nada pessoal, moçada. Minha visão, aqui, é de um cliente que já foi dezenas de vezes na Braverie e recomendou o local a praticamente todos os amigos. E que notou uma queda sensível na qualidade do estabelecimento.

Se antes a gente pagava 23 pilas com gosto e saía feliz, hoje pagamos 23 reais de cara amarrada, nos sentindo assaltados, porque a padaria não nos entregou nada. E uma das piores coisas de ir a um bar, restaurante, padaria ou qualquer estabelecimento é ter a sensação que você foi enganado.

Foi o que aconteceu na Braverie. Seria bom eles retomarem a qualidade de antes. Ou, se não, pelo menos reduzir o preço. Cliente não gosta de pagar mico.


Americanos bons de copo

sexta-feira, 26/outubro, 2007

Vinho americano presta?

Eis uma dúvida freqüente dos consumidores brasileiros. A grande maioria acha que os americanos sabem mesmo é comer hambúrguer e tomar cerveja. Como os gringos não têm muita tradição vinícola, a tendência é acabar acreditando que os tintos e brancos deles são uma porcaria. Se não chega a tanto, pelo menos eles são bem piores que os sul-americanos ou europeus.

Esse é o pensamento comum, principalmente no Brasil. Sobretudo porque a oferta de vinhos americanos por aqui é muito, mas muito ruim. Poucas importadoras têm vinhos americanos em seus catálogos. E as que vendem, vendem caro. A triste realidade é que os vinhos americanos à venda no Brasil são raros e não valem a pena. Isso provoca um fenômeno curioso: muita gente que critica os vinhos dos EUA sequer tomou um golinho de um deles.

É uma pena. A verdade é que os vinhos americanos são ótimos. O canal é a costa oeste dos EUA: há excelentes exemplares de pinot noir no Oregon (perto da cidade de Portland, ao norte de Los Angeles) e fantásticos vinhos feitos com as uvas chardonnay e cabernet sauvignon na Califórnia, sobretudo na região do Napa Valley.

Nesta semana eu provei dois exemplares californianos. Dois cabernets feitos no Napa. Dois vinhos excepcionais.

O primeiro que eu abri foi um Sterling Vineyards Napa Valley Cabernet Sauvignon, safra 2003. Eu não conhecia o vinho. Quem me apresentou a ele, nos EUA, foi meu grande amigo Ricardo Cesar, autor do blog Carta de Vinhos, provavelmente o melhor blog do Brasil sobre o assunto. Estávamos viajando juntos a trabalho, na região do Vale do Silício (perto de San Francisco), e fomos ao supermercado procurar umas coisinhas para trazer ao Brasil.

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Dei sorte. O Sterling é coisa seriíssima. Recebeu 88 pontos da revista americana Wine Spectator, uma publicação reputada como guia confiável de compras. É uma pontuação alta, sobretudo se levarmos em conta que os vinhos dessa coleção, chamada Napa Valley, são considerados os de terceira categoria da vinícola. As coleções top do Sterling são os Reserva e os Single Vineyards.

Eu adorei o vinho. Encorpado, complexo, com muita estrutura e delicadeza. Assim como os grandes cabernets americanos, ele passa fácil como um grande vinho de Bordeaux. Maravilhoso.

No dia seguinte, empolgado com o desempenho do Sterling, abri outro vinho americano: um Robert Mondavi Winery Cabernet Sauvignon, safra 2004 (faça o download da ficha técnica da safra 2005 aqui).

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Também é um vinho ótimo, com muita estrutura e sabor. Mas eu achei um pouco pior que o Sterling. Menos elegante e menos pronto para tomar. Quem sabe daqui uns dois anos.

Enfim, questão de gosto. Mas o que importa é que os vinhos americanos deveriam ser tratados com mais respeito pelas importadoras. Os consumidores brasileiros perdem muito com a ausência dos gringos. O jeito é encomendar uma garrafinha para algum amigo que vá viajar para aquelas bandas. Definitivamente, vale a pena.


E o Talento perdeu

quinta-feira, 25/outubro, 2007

Conforme o prometido, provei ontem à noite o Talento, da Salton. Quis fazer uma comparação com o Desejo, o vinho que eu havia tomado na noite anterior e que me surpreendeu um bocado.

Sem dúvida é um vinho gostoso, mas perdeu de longe do Desejo.

Provei uma safra 2002 do Talento. É um vinho muito bom. Sua cor vai mais para o rubi, com alguns sinais atijolados nas bordas, o que é uma característica de envelhecimento. Os aromas são parecidos com os do Desejo: frutas escuras maduras e carvalho tostado. Uma diferença é a presença de cheiros que lembram especiarias.

Na boca é um vinho de bom volume, mas não tão “pesado” quanto o Desejo. Na linguagem dos especialistas, significa que ele tem corpo médio (ou seja, um peso intermediário de boca, nem tão aguado e nem tão espesso). O gosto fica bastante tempo na boca (é persistente) e o vinho é bem equilibrado (o que significa que ele não é tão alcoólico).

O problema é que ele não é tão elegante quanto o Desejo. A disputa é acirrada, mas falta ao Talento, na minha opinião, a sutileza e a maciez que eu senti no Desejo. Se levarmos em consideração que os dois têm uma faixa de preço semelhante (por volta de R$ 70 para o consumidor final), eu compraria, sem dúvida, o Desejo 2004.

É isso. Bom saber que o Brasil produz dois vinhos top de linha como esses.


Desejos

terça-feira, 23/outubro, 2007

Ontem eu trabalhei 12 horas seguidas. Cheguei em casa quase às dez da noite, destruído. O dia foi complicado no trabalho, daqueles recheados de reuniões intermináveis e discussões profundas sobre a terra, o mar, o aquecimento global e os deuses. Na última dessas reuniões, lá pelas 19h, eu só pensava em chegar em casa, jogar conversa fora com a namorada, ligar a TV para ser “assistido” por ela e… tomar uma tacinha de vinho.

Foi exatamente isso o que eu fiz, he he he.

Fiz uma coisa extremamente não recomendada: abri a porta da minha adega, fechei os olhos e saquei a primeira garrafinha que encontrei. Isso que é degustação às cegas… Minha adega está repleta de coisas boas, então fiquei com um certo receio de pegar um vinho muito caro ou que não estivesse na hora de abrir. Respirei fundo, abri os olhos e deixei o destino agir.

Eis que nas minhas mãos surge uma garrafa do Desejo safra 2004, o vinho top de linha da vinícola brasileira Salton.

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Fiquei feliz com a escolha divina. Eu já havia provado várias vezes o Talento, mas ainda não havia me encontrado com o Desejo. Ele passa fácil por um vinho de qualidade sul-americano ou europeu.

É um vinho que surpreende pela austeridade. Eis uma palavra muito usada quando o vinho é daqueles que impõem respeito. A complexidade do Desejo começa na cor – ou no que os especialistas chamam de “exame visual”. O vinho é muito escuro. Sua cor é um roxo intenso e profundo. Tem tons de violeta, mas é quase negro. No nariz, o vinho libera aromas de frutas vermelhas maduras, tipo ameixa preta. Também tem madeira, já que o vinho passou vários meses envelhecendo em barricas de carvalho. E um leve toque de baunilha, proveniente do tipo de carvalho utilizado para o vinho amadurecer. Em tempo: quase a totalidade dos vinhos brasileiros descansa em barris de carvalho americano (feitos nos EUA), que normalmente dâo um tom de baunilha no aroma dos vinhos. Com o Desejo, não é diferente. (Obs: se o vinho tivesse envelhecido em barricas européias, o chamado carvalho francês, ele teria aromas mais “animais”. Falaremos disso em breve.)

Na boca, o paladar do Salton impressiona ainda mais. É um vinho encorpado, com muita estrutura e ótima acidez. Ainda pode ser guardado por alguns anos. Tudo indica que a criança envelhecerá com dignidade. Talvez seja melhor esperar um ou dois anos para ele alcançar a plenitude. Mas, se você abrir hoje, não vai se decepcionar.  

Enfim, um ótimo vinho. Correspondeu a todos os meus… desejos (desculpe, mas não resisti).

Sempre gosto de bater papo com o Ângelo Salton, o grande comandante da vinícola brasileira e o principal responsável pela virada que a empresa deu nos últimos tempos (falarei disso em breve aqui também). Ele sempre me disse que o Desejo era um vinho ótimo. Eu confesso que achava estranho a vinícola ter dois vinhos top (o Talento e o Desejo ficam na mesma categoria). Mas, depois que eu provei, percebi que o vinho realmente é muito bom. Parabéns ao Ângelo.

Hoje à noite quero ver se eu provo um Talento para comparar… Aguarde.


… e o francês envidraçado

sábado, 20/outubro, 2007

O Lola Bistrô eu já conhecia. Era um lugar pequeno, aconchegante e excelente que ficava na rua Purpurina, na Vila Madalena, bem perto do Fórum de Pinheiros.

Agora ele mudou. Fica na mesma rua, mas numa casa muito maior em frente ao ponto antigo. Ganhou duas grandes paredes envidraçadas, que deixaram o lugar muito bem iluminado de dia e charmoso à noite.

Já no caso da comida… Não sei se eu gostei muito da mudança. O restaurante ficou mais bonito, mas não necessariamente melhor do que era. Pelo menos essa foi a minha primeira impressão.

Eu tinha ido umas cinco vezes (talvez mais) no Lola antigo. Ele impressionava por unir um ambiente simples e apertado a uma gastronomia de alta qualidade e sofisticação. Era um lugar muito charmoso, cuja comida era impecável. Lembro bem do terrine de foie gras e do steak tartare, dois clássicos da culinária francesa, que eram de matar.

Desta vez eu fui com a minha namorada, a Cris, conferir o novo Lola. A gente estava esperando ele inagurar oficialmente, em 17 de outubro, para dar uma olhada. E achamos que ele, de alguma forma, perdeu um pouco do encanto que tinha antes na comida.

A Cris pediu de entrada um suflê de damasco com roquefort e alho poró. Foi o ponto fraco da noite. A mistura era promissora, mas não deu muito certo na prática. A consistência não estava ideal – ele estava mais para uma sopinha do que para um suflê cremoso por dentro. Minha entrada estava OK, mas também não tinha como errar… Era uma saladinha verde com camarões e molho de framboesa.

Os pratos principais estavam ótimos. A Cris pediu camarões grelhados com risoto de cavaquinha. Delícia. Eu pedi uma lula recheada com cuscuz marroquino. Estava bom também. Mas não de impressionar.

Acho que essa frase resume a breve história do novo Lola até aqui: é bom, mas não tem aquele “plus a mais” que tinha antes. Espero que seja só uma fase, porque afinal ele acabou de abrir no novo endereço.

Em relação aos aspectos “off-comida”, justiça seja feita, estava tudo ótimo no Lola. O serviço foi muito cortês e eficiente – e extremamente compreensivo. O ponto alto foi que eles não cobraram o suflê. Primeiro o garçom notou que a Cris não havia terminado a entrada e teve a perspicácia de perguntar o porquê (pode parecer uma atitude óbvia, mas é extremamente rara por aí).  Em segundo lugar, ele não falou um ai e simplesmente não botou o prato na conta. Ou seja, agiu com perfeição. 

O serviço do Lola merece aplausos por isso. Se todos os restaurantes agissem assim, a cena gastronômica paulistana seria muito melhor.

Outra coisa que o Lola melhorou foi a carta de vinhos. Está mais completa, cheia de variedade e com várias faixas de preço. Dá para escolher sem problemas uma boa garrafinha.

Resumo da ópera: vou dar um tempinho e voltar ao Lola daqui a uns dois meses para ver se ele deu uma afinada na comida e voltou aos tempos de glória do passado. Fique de olho aqui no blog para conferir essa segunda chance.


O português lilás…

sábado, 20/outubro, 2007

Ontem fiz uma dobradinha das boas. Fui almoçar no Trindade e jantar no Lola Bistrô.

O Trindade eu conhecia só de fama. É um filhote do ótimo A bela Sintra, do restauranteur (eu tô meio obtuso hoje, sorry) português Carlos Bettencourt.

Confesso que duas coisas me preocupavam no Trindade. A primeira não era bem uma preocupação, mas uma leve desconfiança. Eu estava curioso para saber se Bettencourt iria conseguir manter o grau de qualidade da Sintra num restaurante mais “simples”. Já a segunda coisa era uma preocupação mesmo: a localização do Trindade. Ele fica na rua Amauri, no Itaim Bibi.

Eu até gosto da rua Amauri. É super-conveniente para quem trabalha lá por perto, é bonita e cool. Mas, na maioria dos casos, os restaurantes de lá são mais points para ver e ser visto do que exatamente lugares bons para comer. Em outras palavras, eles têm muita frescura, pretensão e glamour – para pouco resultado gastronômico.

O Trindade conseguiu superar esses meus temores.

O ambiente é… bem, é descolado demais mesmo. Eu estava almoçando com a Mônica, uma grande amiga que é diretora de marketing de uma empresa multinacional, e nós concordamos que o restaurante é… lilás demais.

Essa cor até deve funcionar bem à noite, para dar um ar de balada, mas é um pouco over para o almoço. É a mesma sensação que eu tenho quando vou almoçar no Eñe, um restaurante espanhol cuja comida é sensacional, mas o ambiente é um pouco “boate demais”, com os sofás roxos, o cimento queimado cinzento e a fiação dos refletores à mostra…

Bom, voltando ao Trindade. Ele é lilás demais para o meu gosto mesmo. Mas a comida é ótima. O cardápio não é muito extenso: há quatro ou cinco pratos de cada família culinária. O ponto alto é o bacalhau. O restaurante não nega a raça e faz o prato com extremo capricho. O Nunca Chega (desfiado com presunto, ovos e batata palha) estava um primor. A Mônica pediu um à Gomes de Sá, bem tradicional, com batatas cozidas em rodelas e cebola. Eu dei uma bicadinha e estava show também. Também fiquei curioso para provar dois outros pratos do cardápio: um pargo grelhado à Nazaré (com molho de curry, manjericão e vinho branco) e um salmão grelhado à Vasco da Gama (com molho de açafrão e pimenta rosa). Vou ter que voltar lá para conferir eles dois (chato, né?).

Outro ponto alto do Trindade é um ambiente fechado que eles têm no andar de cima, feito especialmente para eventos e confrarias. É muito aconchegante, silencioso e sem o hype do salão principal (yes!). Além disso, o salão de cima dá acesso à adega do restaurante. Segundo Bettencourt nos explicou, a idéia é que o cliente vá à adega, pegue o vinho e vá curtir o almoço ou o jantar. Sensacional.

Apesar do bendito lilás, o Trindade foi aprovado com louvor. Estava lotado e deve ter uma longa vida por ali. Parabéns ao Bettencourt, que começou bem o novo empreendimento.

Eu ia falar do Lola agora, mas o post ficou grande demais… Leia mais no próximo comentário. 


Vinhos perdidos

quinta-feira, 18/outubro, 2007

Ontem acordei com conjuntivite. Daquelas de não conseguir abrir os olhos.

Até aí, você não tem nada com isso.

Mas vai se sensibilizar com o meu problema ao saber que eu perdi uma degustação sensacional.

Foi um encontro com o vinho Lote 43, da Miolo, considerado um dos melhores do Brasil. Uma degustação que os especialistas chamam de vertical. Isso acontece quando os degustadores provam safras diferentes de um mesmo vinho, para avaliar como ele evoluiu ao longo do tempo.

Sabendo que não havia o que fazer a não ser contaminar todos e estragar a festa, eu perdi essa.

Chorei, lamentei e pedi desculpas ao anfitrião, Fabio Miolo.

Mas meu amigo Adalberto Piotto, âncora da rádio CBN, enófilo de carteirinha e capitão desse evento, salvou a pátria. Ele descreveu com o talento de sempre o que aconteceu na degustação do Lote 43.

Confira no blog do Piotto.


Por falar em preço

quarta-feira, 17/outubro, 2007

Comentei no post abaixo que o preço de um prato no Sal, na hora do almoço, é mais ou menos R$ 35. Agora quero falar da conta total. Eu e o Raul dividimos meia garrafa de vinho branco (um básico Finca La Linda Chardonnay, da Luigi Bosca, só para cumprir tabela). Pagamos no final, com couvert e água, R$ 52 por cabeça.

Não é uma refeição barata, mas… opa! Peraí. É a mesma coisa que eu paguei outro dia no… Galeto’s do shopping!

Ou no… América!

E SEM VINHO!

É incrível como os preços dos restaurantes básicos, os do dia-a-dia no shopping, aumentaram nos últimos tempos. Nada contra o Galeto’s ou o América, mas eles oferecem muito pouco para o tanto que cobram.

Tudo bem, existe a praticidade de estar no shopping e tal, mas não dá para almoçar por 50 mangos por cabeça todos os dias comendo fast food, confirma?

O problema é que as opções são poucas, principalmente dentro do shopping. Ou você parte para um lanche rápido ou vira quase um refém dessas redes. O jeito é procurar um restaurante por quilo decente. Quer dizer, mais de um. Ninguém gosta de comer a mesma coisa todos os dias.

Mudei de escritório recentemente e estou vivendo um problema parecido. A saída parece ser a marmita… 


Tesouro escondido

terça-feira, 16/outubro, 2007

Ontem fui almoçar num restaurante que eu não conhecia: o Sal Gastronomia. Fui levado pelo meu bom amigo Raul, que assim como eu é um entusiasta da boa vida  – e também escreve um blog ótimo sobre vinhos, vale a pena você dar uma olhada.

Eu não conhecia o lugar. O Sal fica totalmente fora do circuito gastronômico de São Paulo. Mais precisamente na rua Minas Gerais, bem no pedacinho em que ela dá acesso à avenida Doutor Arnaldo, na zona oeste. A rua é pouco acessada e o Sal é mais escondido ainda. Ele fica atrás de uma galeria de arte. Isso significa que, quando você chega no endereço, pára o carro e… não vê restaurante nenhum. Nenhuma fachada, sequer uma plaquinha. Para chegar lá, é preciso passar pelo muro da galeria (que serve também de estacionamento). No fim do muro, o restaurante fica do lado esquerdo.

A boa notícia é que todo esse trabalho vale a pena. O Sal é um segredo muito bem guardado. E valiosíssimo.

A boa impressão começa no visual. O restaurante é super arrumado e bonito. É pequeno, mas aconchegante. O dono do restaurante é o chef Henrique Fogaça. Ele já trabalhou com os chefs Laurent Suaudeau  e Alex Atala. E parece ter aprendido um bocado com eles. O menu do Sal é sofisticado e a comida é uma delícia.

Como eu já disse, eu e o Raul fomos lá na hora do almoço. As sugestões do chef eram duas: salmão em crosta de pistache com risoto de brie e lula à provençal com risoto de tomate e mussarela. O Raul pediu um e eu o outro. Estavam simplesmente fantásticos. Náo só a comida em si, mas também a apresentação dos pratos e o serviço. Impecável, sobretudo se você levar em consideração que estamos falando de um almoço de segunda-feira. O preço também é ótimo, uma média de R$ 35 o prato.

Se você gosta de comer bem e ser bem tratado num restaurante ótimo, e honesto, não deixe de dar uma passadinha no Sal. Você vai se surpreender. Eu com certeza voltarei lá. Quero ver se o Henrique mantém essa boa impressão também no jantar… A conferir em breve aqui no blog.


Degustação memorável – II

domingo, 14/outubro, 2007

Após o Collezione de Marchi, fomos ao Piemonte, terra dos fantásticos Barolo. Mais uma vez, começamos muito bem, com um Barolo Sperss 1991, produzido pelo ícone italiano Angelo Gaja.

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Trata-se de um vinho espetacular. Com 16 anos de vida, o Sperss está no ponto para tomar. Mulheres diriam que ele está mais ou menos como um Sean Connery ou um Robert Redford da vida – ou seja, um coroa em boa forma. Homens diriam que ele é como a Susan Sarandon ou a Sharon Stone – uma mulher madura, mas ainda muito sexy. Enfim, o Sperss é um vinho com a potência e a complexidade dos barolos somadas à maturidade do envelhecimento na garrafa.

Simplesmente fanstástico.

Na seqüência, degustamos outro ícone: o Barolo Vigneto Arborina, safra 1999, do produtor Elio Altare. 

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Como diria um amigo meu, “ô dilícia”.

O vinho começou impressionando pelo cheiro – ou, como diriam os especialistas, pelo “nariz”. Os aromas eram muito complexos, uma mistura de cogumelos e trufas com cheiros que lembravam couro e especiarias mais fortes. Na hora de tomar, um show. Desceu redondo, com muita estrutura e delicadeza.

Após os piemonteses, fomos passear por outras regiões da Itália. Tomamos dois vinhos fantásticos, o La Palazzola Merlot safra 1999, da região da Úmbria, e o Amarone Recioto della Valpolicella, safra 1990, do produtor Bertani, um dos mais tradicionais da região do Vêneto.

O primeiro chamou a atenção por ser muito encorpado e estar no ponto para tomar. Muito gostoso, combina bem com pratos mais fortes, e ainda preserva um aroma frutado, apesar de ser um jovem senhor. Já o Amarone é aquela coisa: sempre é bom. Eu, pelo menos, nunca tomei um Amarone ruim…  Amarones são produzidos de uma forma peculiar: eles são feitos com a uva quase já passada. A idéia é fazer a uva se desidratar para concentrar mais o açúcar da fruta. Quando ela está bem docinha, o enólogo vai lá e começa a transformá-la em vinho. Por isso, os Amarones são sempre muito pesados na boca, encorpados e cheios de personalidade. Os melhores unem essa força a uma certa elegância. Foi o caso desse Bertani.

A noite estava quase terminando, mas eis que…

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… o Sylvio, ainda com roupa de chef, mandou chamar a Valquíria Pereira, a talentosa sommeliére do Varanda, para escolher mais uma coisinha.

Para a nossa tristeza, chegou a mesa o vinho que, na minha opinião, foi o melhor da noite: um Barbaresco 2000 de Angelo Gaja.

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O Sylvio caprichou nessa. O ano 2000 foi considerado um dos melhores da história do Piemonte. E, para completar, o Gaja é considerado um dos melhores produtores mundiais de Barbaresco. O resultado só poderia ter sido sensacional.

Ainda tomamos um vinhozinho de sobremesa, uma grappa e jogamos muita conversa fora. No fim das contas, a degustação produziu o seguinte resultado:

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Muitas taças vazias. E pessoas muito, mas muito felizes.


Degustação memorável

domingo, 14/outubro, 2007

Tenho o privilégio de participar de uma confraria capitaneada por Sylvio Lazzarini, dono do Varanda Grill e um grande conhecedor de vinhos. São encontros memoráveis, em que um seleto grupo de jornalistas e empresários divide a mesa com vinhos de grande categoria.

Assim que eu voltei da Coréia, lá estava um e-mail do Sylvio me convidando para mais um desses encontros. Para mim, trata-se de uma convocação. Eu já sou cliente do Varanda há tempos – para mim, é o lugar que serve a melhor carne de São Paulo. Mas a convivência com o Sylvio é relativamente recente, coisa de um ano. Entre uma garrafa e outra de vinho, ele se tornou um grande amigo. É um prazer conversar com ele sobre o mundo da gastronomia, o mercado de restaurantes em São Paulo, as tendências mundiais da boa vida e, é claro, sobre os vinhos que nos cercam.

A degustação foi memorável. Fizemos um passeio pela Itália, com direito a vinhos e receitas típicas da Toscana, do Piemonte, da Lombardia e do Vêneto. O próprio Sylvio pilotou o fogão, com a ajuda da sempre competente equipe do Varanda.

Começamos com um vinho branco delicioso, o Jerman Vintage Tunina 2004, da região do Vêneto. Ele é produzido por Silvio Jerman, que tem a reputação de fazer os melhores vinhos brancos da Itália. A julgar pelo conteúdo dessa garrafa, a reputação é justa. Suave e fresco, o vinho serviu perfeitamente para abrir o apetite e preparar o paladar para o que vinha pela frente.  

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Depois começamos os trabalhos na seara dos tintos. Começamos pela Toscana. E muito bem, olhe só:

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Isso mesmo, um Sassicaia, um dos mais famosos vinhos da Itália. Ele faz parte do seleto grupo dos supertoscanos, como são conhecidos os vinhos feitos na Toscana ao estilo de Bordeaux, na França. Tomamos uma garrafa da safra 2002, que não foi das melhores na região. Mas, como diria um grande amigo meu, o Dr. Arthur Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Sommeliers, vinhos como o Sassicaia são bons até em safras ruins.

O vinho está delicioso. Se ele fosse de uma safra melhor, talvez ainda não estivesse na hora de abri-lo. Mas, para nossa sorte, ele já estava um pouquinho evoluído e desceu redondo. Muito bom.

O segundo tinto da noite estava até melhor que o Sassicaia.

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Foi um magnífico Collezione de Marchi Cabernet Sauvignon 1999, do produtor Isole e Olena, da Toscana. É outro supertoscano, muito menos famosos que o Sassicaia. Mas, na degustação, se deu melhor que o primo rico. De fato, o Collezione não tem a sofisticação e a nobreza do Sassicaia, mas é muito complexo e encorpado. A safra degustada foi a de 1999, que foi muito boa na região. Mesmo após oito anos, os sinais de envelhecimento do vinho ainda não são perceptíveis. Significa que a criança vai longe.   

Depois da Toscana, passamos ao Piemonte. Confira no próximo post. 


Mais uma dica

sexta-feira, 12/outubro, 2007

Esqueci de colocar no post anterior outra boa dica de vinho no free-shop: o Má Partilha 2001.

Fabricado pela casa portuguesa Bacalhôa Vinhos de Portugal (produtora do clássico Quinta da Bacalhôa), esse vinho é feito totalmente com a uva francesa merlot. Abri outro dia uma garrafa dele em casa. Está uma delícia. Pode ser tomado agora ou guardado por mais alguns anos. Combina bem com pratos de caça e queijos. E está com um preço ótimo: US$ 29 no duty free. Vale a pena.


Dicas do free-shop

quinta-feira, 11/outubro, 2007

Nesta semana fui fulminado por um amigo : “você ficou um mês fora e não tem nem uma dicazinha de vinho para nós”?

“Nem do free-shop?”

Ele tem razão. O free-shop do aeroporto de Guarulhos está com coisas muito interessantes à venda. Além de uma boa variedade de garrafas, os preços estão muito bons. Muito mais baratos do que nas importadoras. E extremamente atraentes por causa do dólar em baixa.

Eis quatro dicas para você considerar no free-shop:

Don Nicanor Syrah 2000 – Bodegas Nieto Senetiner – Argentina – US$ 11,50

Ótimo preço. O Don Nicanor é um vinho muito gostoso, que fica na zona intermediária entre os vinhos muito básicos e os top de linha. Ele combina perfeitamente com carnes. Por esse valor, vale comprar umas duas garrafinhas.

Beni de Batasiolo Langhe 1999 – Beni de Batasiolo – Itália – US$ 14

Outro vinho muito gostoso – e que está baratíssimo. Assim como todo vinho italiano, esse Langhe da Batasiolo cresce, e muito, quando acompanhado de um bom prato de comida. Experimente-o com alguma massa, polenta ou até mesmo um ragu de lingüiça ou de cordeiro. Sensacional.

Q Malbec 2004 – Família Zuccardi – Argentina – US$ 21

Outra ótima compra. Por aqui, nas importadoras, você encontra o Q mais ou menos por 100 reais. Ou seja, vale a pena encher o carrinho no aeroporto. É um vinho ótimo, bem típico da Argentina – ou seja, encorpado e com sabor marcante.

Cheval des Andes 2002 – Terrazas de Los Andes e Château Cheval Blanc – Argentina – US$ 88

Coisa seriíssima esse vinho. O Cheval de Andes é fruto de uma associação entre a bodega argentina Terrazas de Los Andes e o lendário Château Cheval Blanc, um dos grandes vinhos de Bordeaux. Ele é produzido no Vale do Uco, em Mendoza. Une o melhor do Novo e do Velho Mundo: a potência dos argentinos com a sofisticação dos franceses. É um vinho caro, é verdade. Mas pagar cerca de R$ 180 por uma garrafa de Cheval des Andes é uma pechincha. Normalmente ele custa por volta de R$ 300 nas lojas brasileiras. Dica: se possível, compre duas garrafas. Uma para tomar já e outra para guardar.


Parem de falar no cinema!

domingo, 7/outubro, 2007

Após um mês de uma aventura inesquecível na Coréia do Sul, estou de volta ao Brasil. Cheguei há alguns dias, mas passou um tempo até eu conseguir desarrumar a mala, arrumar a vida e… atualizar o blog novamente. 😉

Assim que cheguei, bateu a saudade de algumas coisas. Entre elas, voltar à rotina de degustações de vinho e acompanhar os lançamentos do cinema (sou fanático pelas duas coisas). Para a minha sorte, em poucos dias já matei essas vontades…  Sobre a degustação, memorável, falarei num post oportuno.

Sobre o cinema, infelizmente, tem de ser agora.

Fui ao Shopping Iguatemi assistir a Hairspray. Definitivamente não é o meu tipo de filme. Mas, como sessão da tarde descompromissada, leve e descontraída, até que foi uma bela diversão. O problema é que ir ao cinema em São Paulo no fim-de-semana, nem que seja numa sessão vazia e para um filme água-com-açúcar como esse, virou uma dor-de-cabeça.

O primeiro problema aconteceu com os ingressos numerados. Cheguei ao meu assento e… estava ocupado. Uma senhora me disse gentilmente: “Olha, a moça do caixa me disse que o sistema está com defeito e que eu podia sentar em qualquer lugar.”

Hã? Por que, então, eu perdi cinco minutos na fila até a moça “encontrar” a tela dos assentos e me pedir para escolher o meu?

Fui falar com a tal moça, que me disse que “os ingressos têm lugar marcado, o senhor pode sentar neles, mas as outras pessoas também podem sentar onde quiserem, porque hoje estamos com defeito”

“Mas o  número do ingresso está valendo ou não?”, perguntei.

“Sim, está. Mas não hoje.”

Hã???

Bem, os problemas não pararam por aí. A imagem do filme estava ruim, parecendo “lavada”. E o som estava estridente, com eco, como se a platéia estivesse na cozinha. Para completar, algo que já se tornou uma tradição: pessoas falando alto durante o filme. E celulares tocando. “Ssshhh” já não adianta mais. Nem ser mal-educado e mandar calar a boca, após cinco tentativas educadas – e infrutíferas. As pessoas simplesmente ignoram os bons modos e acham que estão no sofá de casa.

Alguém aí tem alguma idéia do que fazer para acabar com essa situação grotesca dos cinemas? Aceito sugestões, porque eu não agüento mais…


Caviar… na cabeça

terça-feira, 2/outubro, 2007

Uma das vantagens (ou não) de ser jornalista é receber informações o tempo todo. Todas as vezes em que abro meu correio eletrônico, vejo centenas de e-mails sobre os mais variados assuntos. Grande parte dessas mensagens são direcionadas exclusivamente à imprensa, os chamados press-releases.

Minha relação com eles é de amor e ódio. Muito mais de ódio do que de amor, para falar a verdade. Na maioria do casos, as informações são completamente inúteis.

Hoje abri meu e-mail e encontrei um release especialmente interessante. Ele dizia que um cabeleireiro paulistano começou a testar um novo produto nos cabelos das clientes: caviar.

(Minuto de silêncio.)

“A Escova de Caviar, que promete revolucionar o mercado de beleza, é formulada com caviar hidrolisado, rico em agentes que potencializam a ação na hora de tratar os fios, potencializar o brilho, diminuir 40% do volume, além de conservar a pigmentação, sendo ideal para mulheres com cabelos tingidos. Rico em lipídios, vitaminas e aminoácidos regados a óleo de semente de girassol, o caviar recupera os estragos provocados por agentes naturais ou químicos, devolvendo aos fios o brilho intenso dos cabelos.”

É o que diz o texto. Já pensou se a moda pega? Quem será que teve a brilhante idéia de colocar COMIDA NO CABELO das mulheres para tratá-los?

Fala sério… Pobres esturjões…


Uma história

domingo, 30/setembro, 2007

Ao reler o último post, lembrei de uma história do filósofo alemão Arthur Schopenhauer. Um dia ele estava em Paris, viu um jardim no meio de uma rua e resolveu sentar no chão. Seu objetivo era ficar horas seguidas contemplando as flores.

Uma pessoa que morava em uma das casas próximas ao jardim achou o comportamento dele suspeito. E chamou a polícia. Minutos depois, um policial abordou Schopenhauer.

“Quem é o senhor?”, perguntou o policial.

“É isso o que estou querendo saber enquanto olho as flores”, disse Schopenhauer. “Se o senhor souber responder a esta pergunta, serei eternamente grato.”

Desculpem o momento filosófico e, digamos, meio fru-fru. Mas Paris é uma cidade inspiradora. Sensacional. E que convida à reflexão a cada esquina percorrida.


Paris

domingo, 30/setembro, 2007

Ir e voltar de Seul é uma tarefa cansativa. O vôo é dividido em dois e cada trecho demora, em média, umas 11 horas para ser cumprido. Uma “perna” normalmente vai à Europa ou aos Estados Unidos. E, de lá, você pega outro avião para chegar à Coréia. Isso significa que, de São Paulo a Seul, são pouco mais de 22 horas de viagem. Fora o fuso horário, de 12 horas a mais.

Punk.

Depois de um mês de uma experiência fantástica, chegou a hora de voltar. E eu estava justamente me preparando para essa maratona aérea. Com um misto de alívio, por voltar para casa, e cansaço – de ter de encarar tanto tempo na classe econômica. Mas uma coisa, um detalhezinho que pode parecer insignificante, me deixou animado: minha conexão era em Paris. Mais: ia demorar 8 horas entre um vôo em outro.

Em outras palavras: entre Seul e São Paulo, pude passar uma tarde inteira em Paris.

Cheguei no aeroporto Charles de Gaulle por volta da uma da tarde. Peguei o ônibus da Air France e fui direto para o Arco do Triunfo.

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De lá, andei até a Place de La Concorde, o Jardim das Tulherias e o Louvre.

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Ainda deu tempo de dar uma passadinha no Palais Royal.

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 O dia estava lindo, ensolarado, sem uma nuvem no céu e com a temperatura amena.

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Pessoas fazendo piquenique nas praças, dormindo nas cadeiras públicas… Em plena sexta-feira à tarde.

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Se existe uma coisa que os parisienses sabem fazer é curtir a vida.

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Com poucos euros você compra uma baguete, uma taça de vinho e, por alguns instantes, esquece do mundo.

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Precisa mais do que isso?

Queria apenas fazer uma ode à leve brisa que soprava em Paris naquela tarde –  me lembrando o nome deste blog o tempo todo. E aplaudir os parisienses por terem o privilégio de olhar para os lados e poder contemplar coisas tão especiais.


Coreanos não bebem Brunello

quinta-feira, 27/setembro, 2007

Os únicos vinhos que estavam em conta na Coréia eram os italianos. A vendedora da Wineara, See-Won, me explicou: coreanos não gostam de vinhos italianos. Eles os acham… fracos demais.

Então, tá.

See-Won (ou Shannon, nome “ocidental” que ela usa para clientes estrangeiros que vão à loja) me disse que os vinhos preferidos dos coreanos são realmente os chilenos e os autralianos, como eu havia suspeitado. O Novo Mundo domina por lá, principalmente devido à concentração dos vinhos. Vale lembrar: quanto mais potente, encorpado e alcoólico o vinho for, mais concentrado ele é. Como a maioria dos vinhos italianos é mais suave – e elegante -, eles acabam não fazendo a cabeça dos nossos amigos asiáticos.

Bom, azar o deles… Eu encontrei algumas preciosidades na Coréia. Com um preço bem em conta, sobretudo em comparação ao mercado brasileiro.

Um exemplo típico foi o Brunello de Montalcino CastelGiocondo. Na Wineara, ele custava US$ 105, o que dá mais ou menos R$ 200. No Brasil, uma garrafa custa por volta de R$ 500. Para confirmar, liguei na Terroir, a importadora paulista que vende esse vinho. A vendedora me informou que ele está com 50% de desconto. “Quanto?”, perguntei. “Com o desconto sai por R$ 262,50. Quer comprar?”

Não…

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Tudo bem: ainda é caro. Na Europa, por exemplo, você consegue achar esse vinho por cerca de 50 euros, ou R$ 131. Mas, mesmo assim, a diferença é grande em relação ao Brasil.

Outro exemplo foi o Barolo Pio Cesare. Lá ele era vendido por US$ 107, ou pouco mais de R$ 200. Aqui no Brasil, ele não custa menos que R$ 310.

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Ainda dei uma passadinha na seção de chilenos. Também vi algumas coisas interessantes, como o sensacional Domus Aurea por 80 dólares – aqui no Brasil, ele custa por volta de R$ 300. Ou um Don Melchor, safra 2001, por US$ 85.

Voltei feliz para casa.


O vinho na Coréia

quarta-feira, 26/setembro, 2007

Foram 31 dias na seca. Fazia tempo que eu não passava tanto tempo assim sem… tomar vinho.

Sequer uma tacinha…

Tinha ouvido falar que a Coréia era um bom lugar para comprar vinhos, sobretudo chilenos e australianos. Esses países aproveitam as rotas comerciais do Pacífico para exportar para a Ásia. Mas, em 31 dias de Coréia, eu não tinha visto nenhuma loja de vinho. É certo que eu não tive tempo de procurar direito, mas eu esperava achar alguma coisa dentro dos supermercados, por exemplo. Nada. Só vi algumas garrafas de tintos e brancos em alguns restaurantes dentro de hotéis. Que só permitiam o consumo no local.

Faltando dois dias para voltar ao Brasil, fiz uma última tentativa de encontrar uns vinhos para levar para casa. Fui ao COEX Mall, um dos maiores shoppings de Seul. Horas depois, nada. 

Voltei ao hotel, cabisbaixo. E, distraído, acabei errando o caminho. Foi quando me deparei com o cartaz abaixo:

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Só podia ser um sonho… É óbvio que eu não entendi uma palavra sequer do cartaz, mas não precisei.

Quem dera eu encontrasse uma loja de vinhos no caminho toda vez que virasse à esquerda em vez de à direita…

A loja chama-se Wineara. Bem sofisticada. E cara. Seoul, é bom que se diga, está entre as cidades com o custo de vida mais alto do mundo. Para quem ganha em wons, a moeda local, é difícil se manter na cidade. Mas ela é bem atraente para quem ganha em dólar. Para se ter uma idéia do câmbio, 1 dólar é igual a mais ou menos 1.000 wons. Um jornal custa 200 wons, ou o equivalente a 20 centavos de dólar. Uma garrafa de água custa 30 centavos de dólar. Uma passagem de ônibus, US$ 0,10.

Como eu estava com alguns dólares no bolso, pensei que faria a festa na loja de vinhos. Mas não foi bem assim. Havia muitos vinhos com preço semelhante ao encontrado no Brasil – ou seja, um absurdo de caro. Algumas garrafas eram até mais caras em Seoul do que em São Paulo. Um champagne Dom Pérignon, por exemplo, custava por lá 300 dólares. É mais do que no Brasil, onde uma garrafa custa por volta de 500 reais (ou até um pouco mais barato em algumas lojas).

Minha empolgação, rapidamente, se transformou em angústia. Eu queria levar umas garrafinhas, mas não esperava que fosse encontrar preços mais caros do que no Brasil…

Estava quase desistindo, quando me deparei com a ala de vinhos italianos.

E, aí, foi só alegria. Leia no próximo post.


Oito pratos

segunda-feira, 24/setembro, 2007

Para começar, uma entradinha show: uma julienne de broto de bambu com shitake e uma gelatina de ostras.

O jantar começou bem.

O segundo prato foi uma espécie de complemento do primeiro: três mini-panquecas coreanas. São deliciosas, delicadas e levíssimas. A base delas é arroz, sempre misturado com outro ingrediente. Nesse caso, uma era de camarão, outra de vegetais e outra e kimchi.

Depois veio um carpaccio simples, com acelga, molho de peixe e uns rolinhos de vegetais. Estava bom, mas não impressionou como os outros dois pratos. Além do mais, a última coisa que eu esperava num restaurante coreano era comer carpaccio…

Pós-“carpaccinho”, uma coisa muuuito boa: macarrão frito com vegetais, servido frio. Tinha tudo para ser horrível, mas os noodles estavam uma delícia, soltinhos e com a consistência perfeita. Outra coisa interessante é esse revezamento entre pratos frios e quentes. Os coreanos não seguem a tradição ocidental de servir primeiro os pratos frios e, depois, passar para os quentes. Aqui eles misturam tudo mesmo.

Depois do macarrão, veio o quart… quinto prato. O estômago já começava a dar sinais de estufamento, mas, como todo sertanejo é um bravo, fomos em frente.

Ops, quase ia esquecendo de falar do quinto prato. Ei-lo aí em cima. O que lhe parece? Bom, debaixo desse verdadeiro carnaval de vegetais (pepino, pimentão, vagem etc.), estão dois escalopinhos grelhados de boi. Falando francamente, eles meio que sobraram na refeição. Estavam gostosos, mas não fariam falta nenhuma.

Já o sexto prato…

Esse estava show. Fatias de porco grelhadas com molho agridoce e folhas de vegetais. E trouxeram, olha lá em cima, um pequeno kimchi para acompanhar. Eu já estava sentindo falta.

Por fim, o sétimo prato salgado: uma sopa com pedaços de peixe, arroz e vários kimchi. Sensacional. Como eu já disse nesse blog, os coreanos terminam as refeições mais nobres com arroz. E com peixe.

Por fim, uma sobremesa simples: sopinha de canela com frutas da estação.

Já estou com saudades desse banquete…


O melhor restaurante da Coréia

quarta-feira, 19/setembro, 2007

Depois de um dia extenuante de estudos sobre o cenário político e econômico do Coréia, fui visitar aquele que é considerado um dos melhores restaurantes do país: o Yi-Gung. Conhecido como “O Palácio”, ele é um dos poucos lugares da Coréia especializados na chamada cozinha real. Significa que eles servem banquetes no estilo das refeições que eram servidas aos imperadores coreanos há alguns séculos atrás.

O restaurante é administrado pela Paradise, a maior cadeia de hotéis de luxo do país. O Yi-Gung é conhecido também por reunir os chefs mais estrelados do país e só trabalhar com ingredientes de primeira linha.

A experiência foi inesquecível. Para começar, o visual do lugar impressiona. O prédio em que funciona o restaurante é um templo construído na segunda metade do século XIX, rodeado por jardins magníficos.

O interior do restaurante também é super-chique. Com destaque para corredores de água, que garantem a privacidade de algumas mesas.

O menu-degustação é formado por oito pratos. No próximo post, vou falar um pouco sobre cada um deles.


Como comer sashimi – à moda coreana

terça-feira, 18/setembro, 2007

Os coreanos são cheios de rituais nas refeições. Você não pode simplesmente atacar todos os potinhos de uma vez. Existe um protocolo a seguir. Por exemplo, o arroz deles é um pouco sem sal. Mas isso não significa que você pode simplesmente botar um pouquinho de shoyu nele e mandar bala. Você come o arroz puro e pronto.

A mesma coisa acontece na hora de comer sashimi. Para começar, você não deve comê-lo puro, mas sim com vegetais.

Os elementos envolvidos são o peixe cru…

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…folhas verdes…

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… e molho de soja.

Eis como comer à moda coreana:

Passo 1: abra uma folha de alface na palma da sua mão.

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Passo 2: pegue o sashimi e molhe no shoyu.

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Passo 3: bote o sashimi sobre a alface.

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Passo 4: dobre e enfie tudo na boca de uma vez.

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 Bom apetite.

PS. Vocês notaram que algumas fotos estão desfocadas. Me desculpem. É que, como eu disse num post anterior, peixe cru combina com soju…


Sashimi de verdade

terça-feira, 18/setembro, 2007

Estou em Busan, uma cidade praiana no sudeste da Coréia. A cidade tem a reputação de ter os melhores restaurantes especializados em frutos do mar de todo o país.

Eu, é claro, fui lá conferir.

Logo na porta do restaurante, uma agradável surpresa. Olha quem meu deu as boas-vindas:

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 Um aquário cheeeeeio de lagostas e caranguejos.

Do lado das lagostas, a equipe de “garçons” 

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Nem precisei olhar o menu para decidir o que comer.

Sentei na mesa e já começaram a chegar os potinhos (nesse caso, travessinhas).

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 Destaque para uma sopa de mexilhões que estava uma maravilha.

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Depois, uma travessa de sashimi – feito na hora, direto daqueles peixes que estavam no aquário.

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Depois chegaram os camarões…

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… e vieiras.

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O jantar está só começando. No próximo post, vou mostrar como os coreanos comem sashimi.


Do mar para o prato

segunda-feira, 17/setembro, 2007

Os coreanos têm uma ilha de veraneio. Chama-se Jeju e é muito, mas muito bonita. Em Jeju, a coisa mais legal de fazer é ir até a costa e conversar com as pescadoras da ilha.

Pesca, em Jeju, é coisa de mulher. A economia de Jeju, além do turismo, é movida por duas atividades: agricultura e pesca. Pela tradição, os homens ficam com as lavouras e as mulheres com o mar (e também cuidam das plantações de chá).

Essa tradição é centenária, mas está acabando. Se antes pescar era praticamente a única forma de ganhar a vida para as mulheres de Jeju, hoje as garotas mais jovens têm a oportunidade de ir a Seul estudar. Por isso, a média de idade das pescadoras de Jeju é em torno de 60 anos. A mais nova é uma celebridade na ilha: tem 48 anos.

A rotina dessas senhoras é extenuante. Elas acordam todos os dias as 4h30 da manhã e saem para pescar. Trabalham sem parar até o almoço e, depois, prosseguem até as três da tarde. Depois, armam barraquinhas na costa para vender seus produtos aos turistas.

Nem é preciso dizer que os peixes e frutos do mar são uma delícia, pois são extremamente frescos. Saíram do mar para a tábua, literalmente.

Elas também vendem peixes apanhados na hora. Esse abaixo se chama wooruck.peixesnahora.jpg


Churrasco

domingo, 16/setembro, 2007

Os coreanos também têm seu churrasco. Mas ele não é nada parecido com o dos brasileiros.

Para começar, nossos amigos de olhos puxados não usam carne bovina. Churrasco, aqui, é de porco. E numa grelha elétrica. Churrasqueiras simplesmente não existem. E ninguém faz nada no carvão ou no espeto.

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Eis a grelha elétrica. Parece uma mistura de George Foreman Grill com racleteira.

A mesa posta é assim.

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A tesoura serve para cortar a carne em pedaços pequenos, que caibam na boca. Como ninguém aqui usa garfo ou faca, mas somente colher e os famosos palitinhos, fica difícil cortar a carne com os dentes.

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Basta botar na grelha, assar e comer junto com a comida dos potinhos.


Soju!

sábado, 15/setembro, 2007

Outra coisa importante: assim como nós brasileiros temos a cachaça, os coreanos também têm sua bebida nacional. É o soju. É um destilado de arroz que tem cerca de 20% de graduação alcoólica — como o vinho do Porto. Ou seja, não é tão forte quanto pinga ou vodka, mas quebra o galho.

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A bebida em si é levemente adocicada. Mas é boa. E, assim como o sakê, dá a falsa sensação de que você não fica bêbado.

Os coreanos tomam soju nos jantares mais sofisticados ou quando vão comer peixe cru. Nas outras refeições, eles tomam uma bebida que eles chamam de bombshell. Nada mais é do que misturar soju com cerveja. Você pode jogar o soju dentro do copo de cerveja ou jogar o copo de soju dentro do copo de cerveja (no meu tempo de adolescente, fazíamos isso com tequila e chamávamos de submarino).

O bombshell tem duas regras. Você precisar tomar junto com alguém (deve formar um par com outra pessoa na mesa) e ambos têm de tomar o copo de uma vez. Num gole só.

O bombshell é muito usado em almoços e jantares de negócios. Serve para quebrar o gelo das conversas mais formais e, segundo os coreanos, “tornar as negociações mais fáceis”.


Importantíssimo: mékdju chusseiô

sexta-feira, 14/setembro, 2007

Tem cerveja na Coréia. E da boa.

As duas marcas principais são as das fotos abaixo: Hite e Cass. São do tipo pilsen, como as mais tradicionais do Brasil. Refrescantes e bem gostosas.

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Para pedir em coreano, é moleza. Cerveja, aqui, se pronuncia “mékdju”. E “eu quero” = “chusseiô”.

Então basta gritar para o garçom “mékdju chusseiô” que tá tudo certo. Ele vai te entender. E você vai ficar feliz.


Ah, quase ia esquecendo

quinta-feira, 13/setembro, 2007

As refeições têm sobremesa!

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E elas são bem frugais. Essa aqui, por exemplo, é uma sopinha de laranja com canela.  Delícia. E sempre rola uma frutinha, especialmente melão, abacaxi e caqui.


Culinária de potinhos

quinta-feira, 13/setembro, 2007

Para a sorte dos estrangeiros que passam por aqui, a culinária coreana não é só feita de arroz, sopa e kimchi. Esses três pratos são a base da gastronomia, mas são complementados por várias outras comidinhas em porções pequenas. São os famosos potinhos.

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Esses acima, por exemplo, são os primeiros potinhos da primeira refeição que fiz em Seul. Uma saladinha normal, molho de soja, ervas em tirinhas e um pouco de gengibre. Eles servem para você começar a comer enquanto o garçom não traz o arroz e o kimchi. A sopa fica para o final nesse caso, pois esses potinhos servem de entrada para um prato muito popular na Coréia: a sopa de joelho de vaca.

É, parece horrível. Mas até que é gostoso.

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Eis a sopinha. Ela vem com alguns pedaços de carne com osso, alho, cenoura, cerejas desidratadas e um molho picante.

Depois chega o arroz.

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Bom, vamos recapitular. Se você pensa em visitar a Coréia ou já está por aqui, precisa saber algumas coisas importantes sobre a comida:

1. Você não vai comer cachorro (só se quiser).

2. Todas as suas refeições terão arroz, sopa e kimchi.

3. Todas as sopas (e a maioria dos pratos) são picantes.

4. Não existe entrada e prato principal. A refeição é composta de potinhos. E a regra é comer todos eles ao mesmo tempo. É assim que os coreanos fazem.


A comida na Coréia

quarta-feira, 12/setembro, 2007

Saudável. Eis uma boa palavra para definir a gastronomia coreana. Ninguém aqui come muito e é raro encontrar alguém muito acima do peso. Isso porque a base da culinária local é composta por vegetais e por pratos que vêm sempre em pequenas porções.

Uma refeição típica na Coréia do Sul é composta por três elementos fundamentais.

O primeiro deles é o kimchi.

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Trata-se do bom e velho repolho. Mas muito, muito condimentado. O kimchi está presente em todas as refeições da Coréia. O mais comum é justamente o da foto acima: só repolho com especiarias. Mas há outros tipos de kimchi, que vêm sempre em potinhos.

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No começo de cada refeição, o garçom vem e começa a botar os potinhos. No mínimo quatro. Às vezes, seis ou oito, dependendo da qualidade da refeição. Chega a assustar. Mas, quanto mais kimchi, mais chique. E mais variedade você tem à disposição na mesa.

O segundo prato básico da gastronomia coreana é a sopa.

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Sempre muito apimentada. Até mais que o kimchi. Na sopa, sempre vão alguns vegetais, cogumelos e alguns frutos do mar.

Para completar o triunvirato da culinária coreana, não poderia faltar o… arroz.

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Sempre rola um potinho de metal desses, com um arroz empapado, bem ao gosto de quem vive na Ásia.


Sem cachorro

terça-feira, 11/setembro, 2007

O Boa Vida começa num lugar inusitado. Desde o fim de agosto, estou na Coréia do Sul, um dos países mais fascinantes que já conheci. Vou passar um mês aqui, numa “fellowship” para jornalistas da LG-Sangnam Press Foundation, uma fundação da Universidade Nacional de Seul (SNU).

Estou aqui há duas semanas. Posso dizer duas coisas sobre a culinária local:

1. A comida coreana é ótima.
2. Não, coreanos não comem cachorro.

Escrevo isso porque a primeira coisa que as pessoas dizem quando você fala que vai viajar para a Coréia é: “Noooossa, o que você vai comer? Vai passar fome? Beliscar um espetinho de poodle?”

E não é nada disso.

Cachorros são uma iguaria cada vez mais rara na Coréia. Encontrar um restaurante em Seul que venda esse prato, chamado de Bosintang (pronuncia-se “boshintang”, em coreano) é praticamente impossível. O costume de comer cachorro — na verdade é uma sopa de cachorro, com a carne ensopada num caldo quente com vegetais e especiarias — é restrito a algumas vilas do interior da Coréia. Só é praticado pelos mais velhos. E está fora de moda.

Segundo a tradição coreana, comer cachorro torna os homens mais viris. Vai saber… Mas o fato é que a Coréia é um país que está se internacionalizando, e comer cachorros é algo que não pega bem. Antes da Copa do Mundo de 2002, que aconteceu por aqui e no Japão, a Fifa fez um pedido formal para que o governo coreano tomasse providências contra o “abate cruel de cachorros”. Depois disso, o consumo da carne, que já vinha caindo, praticamente desapareceu.

Uma ressalva: os poucos coreanos que ainda comem cachorros não pegam os bichos na rua e os colocam na brasa. Cachorros “comestíveis” são criados especificamente para esse fim, em fazendas especializadas. Como os melhores bois que nós comemos quase todo dia. Sabe uma das raças bovinas de carne mais macia, a Red Angus? Existe um equivalente aqui na Coréia. É a raça Hwanggu, que é criada confinada e recebe alimentação específica, só com o propósito de ser abatida.

Bem, mas isso, como eu já falei, é raríssimo. No dogs here, OK?


O lado bom da vida

terça-feira, 11/setembro, 2007

Se existe uma verdade no mundo, é esta: jornalistas trabalham um bocado. É praticamente impossível encontrar um profissional sério que viva “flanando”, como diria minha saudosa avó, a Dona Alcinda (uma figura que estará sempre presente neste blog, por motivos que você descobrirá em breve). Os bons profissionais da apuração e do texto estão sempre estressados. Encaram reuniões intermináveis, fechamentos que vão até tarde da noite e pressões dos mais variados tipos. T.o.d.o. s.a.n.t.o. d.i.a. Por isso, toda vez que sobra um tempinho, jornalistas procuram as mais variadas formas de escapar da tensão do dia-a-dia.

Alguns meditam. Outros enchem a cara. Vão ao estádio de futebol. Ou procuram mais trabalho, como, por exemplo, escrever blogs como este. Eu escolhi algo um pouco diferente. Procuro cultivar uma paixão que vem de alguns anos: apreciar vinhos, gastronomia, charutos, diversão e arte. 

Ou seja, gosto de tudo o que é bom na vida.

Este blog serve para celebrar essa escolha – não sei quanto a vocês, mas eu acho que é essencial compartilhar o gosto pelas coisas boas. E mostrar esse meu lado B de um jeito descontraído e fácil de ler e de entender. Sem a pretensão dos ditos “especialistas” no assunto, que ficam cheios de pose e falam de comida e bebida como se estivessem lendo uma bula de remédio.

Aqui, a regra é falar de coisas sofisticadas, mas de uma maneira simples. Espero que você goste do Boa Vida.

Agora, como diria o Goulart de Andrade, vem comigo.